Por que ter o seu próprio caderno do artista?
Nas pequenas páginas pautadas, tomei nota de inspirações para textos que viraram cursos, posts e esta coluna
Desde que iniciei o que eu costumo chamar de minha revolução pessoal (uma fase da vida que não tem exatamente uma data de início e que, pelo visto, também não terá fim), tenho um caderno pequeno que está sempre comigo. É o meu Caderno do Artista. Quem me disse que era importante ter um foi a artista e professora de aquarela, Renata Cruz. Fiz com ela um curso curto de 2 meses, chamado “Caminhos Poéticas em Aquarela”. O conteúdo mais profundo sobre processo criativo que já tive acesso.
O que aprendi de mais significativo a respeito do caminho da criação não chegou a mim pelos livros – ainda que muitos tenham sido fundamentais. Foi diluindo pigmentos em água e esfregando suavemente o pincel em pastilhas de aquarela que entendi que a criação começa ao prestarmos atenção no que nossos olhos gostam de ver. E para não deixar escapar essas descobertas fugazes, o caderno do artista é essencial.
No primeiro que tive, um caderninho pequeno de capa vermelha, anotei os comentários da Renata e as minhas impressões sobre os artistas que ela apresentava durante as aulas. Lembro bem de um vídeo com a pintora francesa Marlene Dumas em transe criativo no seu ateliê; das cores vivas e simetrias de Nigel Peake; e da série de retratos de mulheres pretas e cabelos coloridos, criada por Lorna Simpson.
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A proposta dos experimentos artísticos era aparentemente simples: pintar como uma criança de 5 anos. E para isso a minha inspiração também estava em casa. Foi uma época em que quase todos os finais de semana espalhávamos papéis, potes de água, pincéis e tintas na mesa de jantar e pintávamos juntos – eu, meu companheiro e as crianças. Às vezes o papo corria solto, às vezes ficávamos ouvindo música concentrados, em outras um silêncio se achegava e, sem percebermos, nos calávamos em uníssono. Cada um em seu projeto, único, particular, mas num momento de criação coletiva.
Aquele caderno também recebeu os primeiros ensaios de possíveis projetos profissionais futuros – em um tempo que parece longínquo, mas não tem mais de 4 anos. Eu estava rascunhando o meu servir no mundo, descobrindo aos poucos o que faria, sem tão pouco saber ainda “como” aquilo seria realizado. Nas pequenas páginas pautadas, tomei nota de inspirações para textos que viraram cursos, posts e esta coluna. Registrei ali meu primeiro contato com Julia Cameron e O Caminho do Artista – livro-oráculo que abriu portas para minhas pesquisas em criatividade e escrita.
Nunca mais deixei de ter meu caderno de ideais comigo. Entendi que tê-lo por perto é como estar sempre acompanhada de um punhado de terra fertil, onde deposito sementes, polinizo insights e me sinto absolutamente livre para plantar o futuro. Quem tem um caderno do artista está mais atento e disponível para o tempo da criação.