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Dani Moraes

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Dani Moraes é escritora, jornalista e especialista em escrita terapêutica

O certo duvidoso

A Dani de hoje precisa ou acha que precisa conhecer as respostas, os mapas, listar as rotas, ter definições para ser capaz de proteger a pequena

Por Dani Moraes
18 out 2022, 10h06
mulher em dúvida
 (| Justin Paget/Getty Images)
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Existe uma contradição inconciliável entre o conhecimento e o desejo? Tenho me perguntado isso, pois vivo essa dicotomia em mim, como se o saber pudesse anular a vontade. Me sinto em busca do impossível. Aspiro por uma estratégia, fórmula mágica ou pulo do gato capaz de me fazer abandonar as incertezas e seguir firme no caminho escolhido. Quero o que não está dado e pertence ao mistério.

Procuro por uma solução definitiva para depositar todo o questionamento interior, onde qualquer fonte de medo se dilua e se transforme em potência e ação. Refuto nas madrugadas insones, de forma contundente, ideias autoproclamadas sobre ‘dar pequenos passos’ e ‘viver um dia de cada vez’. Espero por algo pronto.

Para ser mais objetiva, gostaria mesmo é de receber, diretamente, o nome da santa. Se possível, já com os devidos contatos de e-mail e zap, eventualmente o endereço para o caso de necessidade de um encontro presencial. Procuro algo ou alguém que seja inspiração, capaz de despertar com a tranquilidade de quem não enxerga outra possibilidade que não seja a da conquista. Ah, e tem uma questão importante aqui! Esse alguém precisa ser mulher. Espero que ela me aponte o caminho indubitável do acerto, sem medo, sem risco, sem sobressaltos. Nada menos do que isso.

Vez ou outra sonho com um ambiente, casa ou lugar onde a criatividade seja semeada em terra fértil, sob clima ameno e com todas as variáveis e sazonalidades mapeadas. Procuro uma natureza estável. Não disse que era contraditório?! Aos aventureiros, meu paraíso de convicções deve parecer aborrecido. Paciência… O desejo é meu, e afasto do processo de idealização qualquer questionamento ou juízo. Tudo perfeito, tudo seguro. Nenhuma dúvida paira sob meu céu sem nuvens.

Isso tem uma motivação virtuosa. A minha versão adulta sonha em garantir à criança-artista-interior que vive em mim a possibilidade de uma existência sem sustos. A Dani de hoje precisa ou acha que precisa conhecer as respostas, os mapas, listar as rotas, ter definições para ser capaz de proteger a pequena. Ela quer saber (ou controlar?) como o dia estará amanhã, qual será o cardápio do almoço, se haverá cinco cores no prato. Anseios fadados à taquicardia.

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Ainda que eu proclame vontades de surpresa, quero oferecer à Dani-menina a exclusividade da eterna boa expectativa, porque sei bem que ela passou tempos assustada com a gritaria que ouvia atrás da porta. Temo que a sensação de solidão torne a aparecer, nos levando de novo a buscar refúgio dentro do armário para chorar.

É verdade, no entanto, que agora há um trunfo: o caderno. Oásis onde a palavra organiza o fluxo de pensamentos, acalma, extravasa, vira poesia. Mídia que faz nascer projetos e convocar sincronicidades. Demorou até ter me permitido tal arrebato que, hoje sei, ao contrário do que contam meus desejos, vive no imponderável. Desconhecer é fatalmente a magia de inventar e escrever histórias.

Para contar, assim como para viver, é imprescindível se entregar ao que não se vê, deixar que os pensamentos atravessem as excitações da mente e passem pelo coração, ouçam os sussurros da alma, encobrindo o perigo da razão.

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Não nasci com asas, gosto de raízes e copas. Não sou dada a saltar sem paraquedas. Tenho medo do vácuo, do corpo novo, do cheiro novo, do novo jeito de permanecer, entre tudo que se transforma. Desejo o certo, vivo o duvidoso. No fundo, sei que o caminho seguro é também limitador.

O desejo de garantir uma estrada segura à minha menina é legítimo, ainda que impraticável. O que me parece possível apenas é ofertar-lhe agora meus braços, meu colo. Segura a minha mão, Dani! A vida não é certeza, é confiança.

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