“Salagadula Mexegabula
Bibidi-Bobidi-Boo
Junte isso tudo
E teremos então
Bibidi-Bobidi-Boo”
Palavras podem ser mágicas. Vale pra Disney, pra Cinderela, pra mim. E, creia, vale também pra você e pra quem acredita nelas ou não. Das evocações, dos rezos e feitiçarias nascem os mistérios, o destino, a imaginação, o sonho. Se é do inexplicável que viemos e para o indizível que seguiremos, a expressão será nossa única possibilidade de entendimento.
A missão é simples: pegue toda a sua dor, seu sorriso e esperança, seu afeto e suas mágoas, e transforme em arte. Que arte não é produto estético, arte é passo, é fruição, respiração. Mas também gosto de chamar de vida. Repito como mantra: a arte cura, a arte salva. É a própria pulsão de vida. É aquilo que anima a alma, faz ventar nas velas, e acender os vagalumes. Artistas que somos, em ritmo frenético de reprodução – de memórias e de células, vivemos sob o teto de lona do circo-círculo de ser. Ser ou parecer ser, eis a questão, diz o artista, ou seria Shakespeare?
Em minha invenção, só estou viva quando ou enquanto crio ou talvez obedeço ou ainda honro o princípio básico da Natureza: a sua própria criação e recriação constantes. Não há que se dizer a um bebê, humano ou não, que é imitando que se aprende a sobreviver, que para crescer e, portanto, continuar vivo, estamos vocacionados à interpretação. Pequenos atores, pequenas atrizes no palco da existência. Uma força imperativa de comando diz: imagine, faça, repita, copie e recrie, do seu jeito, com suas próprias habilidades e ferramentas – muitas vezes conhecidas como corpo, sentidos e pensamento.
Apreendemos a vida observando e repetindo, atuando num longo ensaio que já começa valendo e… voilá! Em instantes estamos em cena, sendo uma e sendo muitas, em atos cíclicos, até que as cortinas se fechem.
Ninguém sabe exatamente nem tão pouco pode provar o que acontece nas coxias. Será que tem mais amor? Será que toda a dor acaba? Será que podemos, finalmente, repousar nos camarins da eternidade? Será que encontramos o resto do elenco? Será que continuaremos cansadas e doentes ou, enfim, libertas da personagem? Será que se pularmos da varanda na cena final em seis segundos a dor vai passar? Será que passará ter doído?
Sem respostas. Vivo o espetáculo da vida, entre benzimentos e amarrações, ofertando palavras em orações! Que minhas preces escritas alcancem corações e que diariamente uma poesia improvisada e ordinária seja capaz de despertar o desejo misterioso das histórias e dos encantamentos.