Autocuidado real: transformar fragmentação em inteireza
Dani Moraes reflete sobre o quanto precisamos aprender a nos priorizar se quisermos nos conectar com quem verdadeiramente somos
Tenho ascendente, Mercúrio e Vênus em Gêmeos e costumo colocar nisso a culpa por ser uma pessoa um tanto inquieta e com muitos interesses. Porém, essa coisa de ser uma pessoa múltipla não está tão apaziguada com meu Sol, em Touro. Muito menos convive bem com minha Lua em Escorpião que, por sua natureza, quer a intensidade dos mergulhos profundos em todas as mil e uma utilidades e interesses que a vida me desperta.
Se você não entende ou mesmo não gosta de astrologia, te peço: não me abandone ainda! Dê uma chance aqui para esse texto fazer algum sentido para você, apesar dos pesares. Agora, se você gosta de uns paranauês do mistério, basta seguir o flow.
Não é raro que todas essas partes que me compõem proporcionem mais angústia do que prazer na livre manifestação da minha diversidade. E isso se deve, em grande parte, ao fato de que eu não só tenho vontades e desejos conflitantes, como ainda passei anos e anos buscando, com empenho ancestral, não desagradar ninguém.
Eu vivia minhas contradições internas numa constante luta pela liderança das minhas escolhas, ao mesmo tempo que se opunham frequentemente às demandas externas, que me pareciam ser determinantes para me sentir aceita e amada no mundo. O famoso e instintivo desejo de ser atendida em meu desamparo primal.
Todo esse conflito emocional, traduzido numa sensação de fragmentação persistente, se tornou mais claro quando me vi diante da necessidade de atender ao desamparo instintivo de duas outras criaturas: minhas filhas. Fato é que, desde então, a população a ser contemplada em desejos e necessidades começou a ficar grande demais diante da minha capacidade, já bastante rasa, de dar contorno e limite às demandas dos outros, obviamente em detrimento à manutenção mínima da minha integridade pessoal.
Só quando a ilustríssima e sábia metáfora das máscaras de oxigênio que precisam ser colocadas primeiramente em nós para que só depois tenhamos condições de apoiar alguém chegou até mim é que pude me dar conta de que se eu não pudesse respirar, não teria como amparar ninguém. Esse aprendizado, como um grande processo de desfragmentação, tem sido uma das coisas mais desafiadoras da minha vida.
“Só quando a ilustríssima e sábia metáfora das máscaras de oxigênio que precisam ser colocadas primeiramente em nós para que só depois tenhamos condições de apoiar alguém chegou até mim é que pude me dar conta de que se eu não pudesse respirar, não teria como amparar ninguém.”
Porque, em alguma medida, simboliza uma espécie de inversão de valores, que há muitas e muitas gerações criou raízes e naturalizou a concepção de que nós, mulheres, somos cuidadoras e que nascemos para ser elo e conciliação, que temos como missão nos sacrificar em nome do bem estar dos outros.
E não só vivemos essa sina, como encontramos nela recompensas e reconhecimento de renúncias como virtudes. Quando a vida, e em muitos casos o sofrimento, nos convida a dar contorno aos nossos desejos e colocar limites nas relações, enfrentamos o desconhecido caminho de busca por nossa autenticidade por meio do que vem sendo chamado de “autocuidado de verdade” ou “real”, como prefiro.
Um movimento que nos convida a transformar nossos padrões de comportamento e, sobretudo, nossa mentalidade. O segredo para a mudança de atitude está em conectarmos nossos processos de autoconhecimento, ou seja, aquilo que já sabemos de nós e de nossas histórias, com a forma como escolhemos viver, nos comportar e expressar.
Integrar o que aprendemos sobre nós com nossas ações é a tarefa mais importante da existência, e é a etapa que nos dá a verdadeira oportunidade de conciliarmos quem somos com o que fazemos. Não tenho nenhuma dúvida de que este processo se dá através de um aprendizado essencial que pressupõe o aprimoramento da qualidade do nosso diálogo interno.
Por isso, te pergunto: como você fala com você mesma? Como você se observa? Como se ocupa de si e como se convida a mudanças? Como você se trata internamente? Há amor, calma ou violência na forma como você se relaciona com você mesma?
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