Depois de duas ou três informações sobre o meu mapa astral, me senti nua diante da escritora que eu entrevistaria em menos de 5 minutos. Num instante, ela parecia conhecer alguns segredos da minha alma, e eu não estava preparada para isso.
Com um sorriso no rosto, me perguntou sobre a posição dos planetas Saturno e Plutão. “Os mais importantes”, falou. Não titubeei: “os dois estão na Casa 4”. Ela arregalou os olhos e fez uma careta. A minha, costumeiramente massacrada, Lua em Escorpião gerou mais uma reação de preocupação e o comentário espantado: “todo mundo aqui no Brasil tem Lua em Escorpião?”. Se for verdade, pensei comigo, talvez explique muita coisa.
O ápice da conversa, que antecedeu a mediação do bate-papo com a romancista argentina Florencia Bonelli, que conduzi na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, veio num conselho categórico: “você tem que perdoar o seu pai”. Caí na risada… de nervoso, lógico. O evento, uma reedição da parceria com a Editora Planeta, em que representei a Revista CLAUDIA, acabava de se transformar numa espécie de telegrama do Universo, endereçado sincronicamente e sem rodeios à mim. Além da satisfação com o trabalho, recebi de presente essa interpretação astrológica express e uns bons conselhos que foram direto pra minha sessão de terapia da semana seguinte.
O novo livro de Florencia, chamado O Feitiço da Água, conta uma história de amor costurada pelos astros, totalmente netuniana, e com final feliz. A autora faz questão de dar o spoiler, pois, segundo ela: “de dura já basta a vida”. Para mim, conversar sobre Literatura e Astrologia com uma das principais romancistas contemporâneas uniu duas paixões, que se entrelaçam também com a minha ancestralidade.
Além de neta e filha de escritores, tive uma mãe astróloga. Com ela, aprendi que, depois do nome, o mais importante era perguntar o signo da pessoa com quem você estivesse falando. Eu não devia ter mais do que 12 anos quando fizemos juntas um curso sobre os signos e a música clássica. Desde então, nunca mais me esqueci das sinfonias piscianas de Frédéric Chopin nem das composições virtuosas, e arianas, de Johann Sebastian Bach.
Em plena Avenida Paulista, a intimidade instantânea, criada naquele momento entre mim e Florencia, não tinha outra explicação, senão cósmica. Uma descontração na medida certa se estabeleceu ali. Éramos duas taurinas com ascendente em Gêmeos – informação que eu havia descoberto durante a pesquisa de preparação para a conversa, que, naturalmente, correu descontraída.
Ao final, ganhei um autógrafo carinhoso desta “hermana”, como me escreveu, e voltei para casa com a sensação de missão cumprida. Bem do jeitinho que uma taurina gosta: trabalho feito, troca de afetos, boa companhia e a garantia de um final feliz.