Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Dani Moraes

Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Dani Moraes é escritora, jornalista e especialista em escrita terapêutica
Continua após publicidade

A casa de todos e de ninguém

A colunista Dani Moraes reflete sobre o lar que carregamos

Por Dani Moraes
9 fev 2023, 13h45
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Ainda carrego comigo a casa que nunca tive. Tentei forjá-la, a partir, exclusivamente, de mim. Até que compreendi que casa não se faz sozinha. Tem muita areia, cimento e tijolo pra assentar, que pessoa nenhuma dá conta. Por vezes nem duas, nem uma vila inteira.

    A minha casa inexistente, como antítese de teto ou lar ou mesmo barracão, existe somente como falta, e com o vazio que ela ocupa preencho meus nadas. Símbolos das ausências mais presentes, dos ditos não-ditos, do abandono, do vácuo.

    A casa que carrego comigo já foi pesada demais, feito nuvem carregada de um temporal impedido. Ora relampeia e, sob a luz fugidia, vê-se que não há. Ora troveja e grita a mudez do que é silêncio.

    Sobrevoar o Monte Roraima presa a balões coloridos não posso. Sei que o chamado dos povos vem da terra – casa de todos e hoje de ninguém. Relegada e depredada, em situação de abandono e guerra, pede socorro no fio da voz. Sussurro de dor, agonia, sem esperança, à míngua. Em estado de véspera, resiste o povo da floresta – riqueza encarnada que pisa e dança e luta sobre o chão da ganância. Ofertam o corpo como abrigo do espírito não fragmentado da existência pelo profundo saber.

    Comigo levo a casa das minhas ilusões e dou festas na sala, convido os sonhos pra dançar, deixo que o medo tome conta da segurança e a arte faça a discotecagem. Deixo-me embriagar e me entrego ao ritmo das luzes estroboscópicas e dos corpos. Quando amanhece, os vestígios contam da alegria e da desilusão. O que foi vira memória, e a casa é presença e agora.

    Continua após a publicidade

    Meu corpo-casa, hoje vazio, sangra onde já foi ninho, e teima em gestar. Preparar por dentro uma luz que aquece. Uma fogueirinha que parece que vai apagar, mas insiste e persiste. Abro a porta e do eco surge o vento. Ele carrega oxigênio, expande os pulmões, circula pelas veias, comove e canta: confia! Confia que a casa é abrigo sem dor, e na verdadeira morada, a alma não tem teto nem o balão existe.

    Publicidade

    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Moda, beleza, autoconhecimento, mais de 11 mil receitas testadas e aprovadas, previsões diárias, semanais e mensais de astrologia!

    Receba mensalmente Claudia impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições
    digitais e acervos nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.

    a partir de 10,99/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.