Conflitos entre gerações no ambiente de trabalho sempre foi um grande desafio a ser vencido e um fator de desconforto para todos os envolvidos no ecossistema do mundo corporativo.
Atravessamos séculos potencializando preconceitos e padrões de comportamento, hoje inaceitáveis, quando o assunto em questão era a possibilidade de uma convivência harmoniosa entre profissionais de diferentes gerações.
O fato é que o envelhecimento da população no mundo, e especialmente no Brasil, tem provocado um grande movimento de reflexão e de mudanças para que possamos nos adequar a uma nova realidade onde o respeito deve ser a palavra-chave.
Afinal, estamos alcançando uma longevidade até então nunca vivenciada. Isso tem resultado em profissionais mais velhos e ativos por muito mais tempo em suas funções nas empresas. Por outro lado, acontece a entrada maciça de profissionais mais jovens ao mercado.
O resultado desse novo cenário é que as empresas estão lidando com um mix geracional que abarca os mais diversos perfis de profissionais num único ambiente com todas as suas particularidades e diferenças de pensamentos em todos os níveis.
A maior convivência entre profissionais mais velhos e mais novos está ganhando uma dimensão que precisa ser avaliada e tratada com cuidado para criar horizontes onde todos possam conviver harmoniosamente promovendo uma troca de experiência e de conhecimento positiva para ambos os lados.
O que é o movimento Gentelligence?
Como mudar um padrão de comportamento que sempre cultuou o preconceito etário? Pois então, um novo padrão está ganhando força no mercado.
Batizado de Gentelligence, o movimento surgiu de forma acadêmica por meio de estudos e pesquisas e vem se tornando uma realidade nas empresas que desejam promover um ambiente saudável, respeitável e inovador entre todos.
O termo recebe definições distintas em alguns setores, mas em sua essência ganhou vida no início do século XXI com a proposta de promover uma interação positiva entre pessoas de diversas faixas etárias.
A ideia é compartilhar conhecimento e valorizar as habilidades de cada pessoa independentemente da geração a qual pertença. Em se tratando especificamente de Brasil, vivemos o aumento da expectativa de vida e uma queda de natalidade. Nessa “gangorra”, a Gentelligence tem uma importância relevante para a construção de uma sociedade mais inclusiva, colaborativa e aberta às diferenças.
De uma forma mais ampla, podemos ver a Gentelligence como uma espécie de arte que tem como propósito unir gerações, fazendo que com que cada um entenda, aceite, respeite e aprenda com as diferenças. Neste artigo, ressalto os problemas comuns ao ambiente profissional e suas complexidades para uma convivência pacífica e harmoniosa.
A Gentelligence vem sendo entendida também como uma espécie de inteligência geracional por reconhecer e aceitar as diferenças que são apresentadas por cada geração, por seu modo de pensar e de agir em situações cotidianas do ambiente profissional. Mas como colocar em prática uma ideia que tem em sua raiz diversas barreiras a serem superadas?
Acredito que a prioridade para desenvolver essa proposta de forma positiva seja a mudança de mentalidade, ter um novo olhar para as relações interpessoais apesar das diferenças geracionais. No lugar de cultivarmos uma competição desnecessária no ambiente de trabalho, abrir espaço para uma colaboração intergeracional com o objetivo de criar um ambiente mais acolhedor para todos.
Considero necessário termos a clareza de que em um ambiente corporativo que reúna diversas gerações, obviamente haverá diferença de visões de mundo e de valores. E este é o momento mais apropriado para adotarmos a Gentelligence e mostrarmos que essa diversidade não precisa, e nem deve, ser motivo de conflito. É o cenário perfeito para estimular a compreensão e o entendimento de que cada um tem coisas a oferecer, a ensinar ou a aprender.
Embora seja uma proposta muito positiva a ser implementada no mercado de trabalho, sabemos que a Gentelligence tem uma série de desafios a serem vencidos como preconceitos e estereótipos no que diz respeito às faixas etárias. Outro fator que muitas vezes estimula esse afastamento geracional é a tecnologia. Vamos combinar que os avanços tecnológicos abrem lacunas que, à primeira vista, parecem instransponíveis entre trabalhadores mais velhos e mais jovens.
Mas nem tudo é problema. Existe o lado positivo nessa história que são as oportunidades que podem surgir exatamente a partir desses diferentes conhecimentos e habilidades de cada um. É nesse momento que as lideranças devem estimular essa troca positiva entre as equipes. Onde mais novos e mais velhos ensinam e aprendem simultaneamente, ou seja, promovendo mentorias reversas. Cada um oferece o conhecimento ou a vivência que tem para potencializar novos aprendizados ao outro.
E aí volto a ressaltar um tema que sempre trago nesse espaço e que considero fundamental em todos os cenários: comunicação. Somente uma comunicação transparente, direta e não violenta pode superar os desafios para uma convivência pacífica e harmoniosa entre gerações. Arrisco a dizer que ela é a principal chave para que a Gentelligence possa ser praticada com sucesso.
Abaixo algumas dicas de como promover a Gentelligence com resultados positivos:
Como promover a Gentelligence com resultados positivos?
- Flexibilidade
Qualquer coisa que envolva diversidade requer flexibilidade, compreensão e respeito ao outro. É fundamental ouvir e entender as necessidades de cada grupo profissional para que se criem mecanismos que beneficiem todas as pessoas.
Um bom exemplo disso é o trabalho remoto, que não é uma prática muito adotada pelos profissionais mais velhos, mas considerada fundamental para a nova geração. Alinhar essas e outras preferências é um desafio para as lideranças.
- Pertencimento
Outro desafio para as empresas, e suas lideranças, é fazer com que todos os colaboradores tenham um sentimento de pertencimento em seu ambiente profissional. Sempre falamos do preconceito em relação ao mais velho. E é fato que ele existe e é muito forte.
Mas não podemos deixar de admitir que também existe, no campo profissional, o preconceito do mais velho em relação ao mais jovem por sua decantada falta de experiência. É nessa hora que as duas partes precisam ser estimuladas a promover a troca de experiência e conhecimento e não cultivar uma competitividade que não será benéfica para ninguém.
- Diferenças
Reconhecer, admitir e entender as diferenças do mix geracional de profissionais deve ser visto como um ponto positivo e de crescimento para a empresa.
Não podemos nos esquecer que a diversidade de pensamento não resulta apenas em conflito. Pelo contrário, a diversidade pode ser um importante elemento de inovação, de novas práticas de trabalho e de comportamento.
- Aprendizado
Quanto mais distante uma geração é da outra, mas desconhecimento cada uma das partes tem sobre a outra. É necessário promover essa interação de forma inteligente e não por meio de imposições a nenhum profissional.
Realizar eventos interativos que transmitam conhecimento sobre determinados temas, criar ações de conscientização sobre valores e estilos de vida de cada geração, além de estimular uma relação saudável e respeitosa entre ambas as partes.