Não sou um exemplo de boa alimentação. Nunca fui de exagerar nas quantidades, mas cometo meus deslizes em relação à qualidade. Minha preferência por doces, especialmente chocolate, é a grande responsável por eu tropeçar quando decido comer melhor. Recentemente tive contato com alguns estudos que comprovam a influência da qualidade da nossa alimentação com o humor e a saúde mental. Eles afirmam que doenças como depressão ou ansiedade podem ser detonadas pela má alimentação.
Todos os artigos afirmam que a boa alimentação – aquela rica em frutas, cereais integrais, legumes e carnes magras – faz bem para nosso humor, ajuda a prevenir ansiedade e depressão.
Ao mesmo tempo, alimentos ultraprocessados têm o efeito contrário, causando mais desequilíbrio. O assunto me chamou atenção, especialmente por eu já ter enfrentado uma depressão.
O tema não é novo. Há muito já se fala a respeito. Mas agora tem ganhado mais holofotes, diante do aumento do número de casos de problemas de saúde mental que têm sido registrados. Segundo o relatório anual do estado mental do mundo, divulgado pela organização de pesquisa sem fins lucrativos Sapien Labs, o Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental entre 64 países pesquisados.
O estudo da relação entre dieta e bem-estar mental faz parte de um campo emergente no mundo das pesquisas, chamado psiquiatria nutricional. Tenho lido um pouco a respeito e me interessado cada vez mais por esse tema. Por isso resolvi escrever essa coluna. Um dos principais estudiosos do assunto é Drew Ramsey, autor do livro Eat to Beat Depression and Anxiety (Comer para vencer a depressão e ansiedade, numa tradução livre).
Curiosa para saber mais, conversei com a doutora Marissol Rios, que é psicóloga e nutricionista. Além de estudar a respeito, em seu consultório ela trata diariamente de pacientes que não só reduzem medidas, mas também veem o nível de saúde mental aumentar quando trocam os alimentos processados por uma dieta mais limpa, com comida de verdade.
Qual a relação entre alimentação e humor?
Ela me contou que há estudos detalhados feitos a partir da microbiota (colônia de bactérias) intestinal de pacientes com depressão, que comprovam que não tem como separar saúde mental e alimentação. “Até pouco tempo, ligávamos a dieta saudável à boa saúde física, mas hoje os estudos começam a revelar que o hábito alimentar também afeta a nossa saúde mental”, diz Marissol.
A dieta que costuma ser mais indicada para esses tratar a saúde mental é a chamada dieta do Mediterrâneo, que inclui alimentos frescos, peixes e outras proteínas magras.
“Peixes ricos em ômega 3 colaboram para bom funcionamento do cérebro, as leguminosas, que são ricas em nutrientes como ferro, zinco e magnésio, estimulam a produção de serotonina, o chamado hormônio do bem-estar. Já frutas como abacate, banana, que são ricas em vitamina do complexo B, estimulam neurotransmissores e também a produção de serotonina.”
Segundo Marissol, a tendência dos pacientes que chegam ao consultório é sempre olhar para a balança e para o visual, mas o corpo e a mente dão respostas, que não necessariamente estão ligadas ao peso.
“Às vezes não há a perda de peso, mas há relatos de que o sono melhorou, o humor melhorou e que a disposição no dia a dia também”, conta.
Diante dessa nova realidade, o trabalho do psicólogo e do nutricionista ficou mais interligado. A psicologia já está falando de comportamento alimentar, bem como a nutrição está buscando essa associação. “Por muito tempo o nutricionista foi visto como matemático que calcula quantidades calóricas, mas cada vez mais a questão do bem-estar e da saúde mental, tem sido considerada pelos profissionais.”
Reflexo da alimentação na vida moderna
Os nossos hábitos alimentares mudaram muito a partir da Segunda Guerra, quando mais pessoas passaram a trabalhar longe de casa e a comer na rua.
A alimentação foi sendo cada vez mais modificada, substituindo produtos in natura por industrializados, pensando mais na praticidade do que na qualidade.
Além do que comemos, mudamos também a forma como comemos. Eu mesma posso dar meu testemunho. No período em que trabalhei no setor financeiro, em Nova York, era comum comermos na mesa do trabalho, diante da tela do computador.
Muitas vezes, eu terminava o prato sem nem me dar conta do sabor, da textura, do aroma. Era um ato quase mecânico, de mastigar e engolir. Não por acaso, o mindful eating, que propõe a plena atenção durante a refeição, tem sido cada vez mais defendido.
Uma vez entendidos os benefícios, qual seria o primeiro passo para mudar a alimentação? Segundo Marissol, ao invés de pensar em excluir, é melhor incluir.
Antes de fechar a boca para o que não é bom, é preciso abrir a boca para o que é bom. “Para a pessoa que consome açúcar todos os dias vai ser difícil simplesmente cortá-lo da dieta, mas é possível incluir nesta alimentação, frutas, legumes, vegetais e proteínas. Se a pessoa incluir um ovo, um pouco de frango ou peixe ao carboidrato que consome, esse índice glicêmico já começa a ser controlado”, garante.
Melhor pensarmos nisso na nossa próxima refeição.