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Stéphanie Habrich

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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.
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Precisamos discutir o uso do celular nas salas de aula

Ministério da Educação quer criar projeto de lei para banir o uso do celular nas salas de aula – a iniciativa é válida, mas vai exigir esforços

Por Stéphanie Habrich
Atualizado em 2 out 2024, 11h12 - Publicado em 1 out 2024, 10h00
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  • Camilo Santana, ministro da Educação, afirmou que irá apresentar um projeto de lei proibindo o uso de celulares nas escolas. Sua intenção é apresentar a proposta ainda neste mês de outubro para permitir um debate na sociedade. Além deste, uma outra proposta está pronta para ser votada na Comissão de Educação da Câmara. 

    De autoria do deputado Diego Garcia, o texto proíbe celulares e tablets nos anos iniciais do ensino fundamental e permite o uso somente para atividades pedagógicas nos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio. 

    As propostas têm sido impulsionadas por pesquisas que mostram os prejuízos do uso indiscriminado desses recursos tecnológicos nas escolas. Segundo a Unesco, o uso excessivo de telefones celulares pode prejudicar o desempenho educacional das crianças. 

    Dados do PISA 2022 indicam que 80% dos alunos brasileiros de 15 anos se distraem com o uso de celulares durante as aulas de matemática. Essa distração resulta em uma média de 15 pontos a menos em comparação com os alunos que conseguem manter a concentração. Isso sem falar que as altas doses de exposição às telas também podem afetar negativamente a estabilidade emocional de alunos.

    A pandemia foi responsável por uma verdadeira avalanche de recursos tecnológicos dentro da sala de aula. Segundo a Unesco, em todo o mundo, a porcentagem de usuários de internet aumentou de 16% em 2005 para 66% em 2022. Cerca de 50% das escolas estavam conectadas à internet com fins pedagógicos em 2022.

    No retorno do modelo presencial, não houve como simplesmente proibir o uso dos celulares dentro das salas de aula. Embora seja praticamente impossível encontrar uma escola na qual o uso do celular seja totalmente liberado, a prática tem mostrado que é difícil controlar o uso. 

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    Como é uso de celulares nas escolas em outros países?

    A discussão sobre o uso de celulares em salas de aula não se limita ao Brasil. É um debate global que tem levado diversos países a adotarem medidas restritivas. Um quarto dos países já implementou algum tipo de proibição, incluindo nações conhecidas por seus sistemas educacionais de ponta, como Espanha, Finlândia e Holanda.

    A França, pioneira nesse movimento, desde 2018 proibi o uso de celulares para estudantes com menos de 15 anos, inclusive durante os recreios. Exceções são feitas para alunos com deficiência.

    Nos locais onde já foram feitos estudos sobre a retirada dos aparelhos celulares das escolas, os resultados têm sido animadores. Na Inglaterra, uma pesquisa conduzida pela The Policy Exchange, analisou 162 escolas secundárias: mais da metade (52%) disse que proibia o uso de celulares, já 36% tinham uma “proibição parcial”, com os celulares proibidos em alguns locais, mas permitidos em outros.

    De acordo com o estudo, os resultados do GCSE, exame nacional equivalente ao nosso Ideb, mostraram que as escolas com uma proibição efetiva do celular tiveram notas mais altas em comparação com escolas com uma abordagem mais flexível.

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    Banir celulares é a solução para a educação?

    Conversei com a psicoeducadora Denise Alves Freire sobre esse assunto. Ela considera a proposta de banimento uma medida drástica. “Eu sou contra o uso do celular dentro da escola, inclusive na hora do recreio, porque isso distancia os alunos do contato físico, do contato verbal, desse momento de estar junto, mas a gente precisa entender que durante dois anos este foi o recurso utilizado. Isso desenvolveu um hábito. Antes de banir, precisamos fazer um trabalho para desinstalar esse hábito”, afirma. 

    Criança mexendo no celular
    Família precisa ser conscientizada do quanto o uso excessivo de telas danifica a qualidade da vida adulta de seus filhos (Andrea Piacquadio/Pexels)

    Na visão da profissional, isso só pode ser feito com um processo de educação dos jovens, das famílias e de toda comunidade escolar. “Mais do que da lei, a sociedade precisa da parceria da família. A família precisa ser conscientizada do quanto esse uso excessivo danifica a qualidade da vida adulta de seus filhos”.

    O que Denise propõe para as famílias é que os pais convidem seus filhos para fazer atividades juntos. Pode ser assistir a um filme, fazer um bolo, ler um livro ou mesmo fazer uma caminhada juntos. Ao mesmo tempo, ela sugere que, na sala de aula, o professor promova um plano de aula dinâmico para que a experiência da escola seja interessante e prazerosa para o aluno e não um tédio, afinal, fazer o aluno copiar o que está na lousa, não vai atrair atenção. 

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    “O processo é muito mais profundo do que simplesmente criar uma lei e trazer uma obrigatoriedade. A gestão da escola, o professor e a família precisam acreditar. Só assim será possível criar um espaço que mostre para a criança que ficar num ambiente de interação presencial traz um benefício muito grande.”

    *Com reportagem de Silvia Balieiro

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