Na semana passada, fomos todos surpreendidos pela morte do empresário Abilio Diniz. Exemplo de vida saudável e com uma vitalidade admirável, era difícil não considerar que ele ainda viveria muitos anos.
Sua morte reacendeu em mim algumas reflexões que vez ou outra me pego fazendo sobre a finitude da vida. Ainda que não gostemos de falar a respeito, a morte é uma realidade que um dia será enfrentada. Os anos vão passando e vamos envelhecendo, assim como todos à nossa volta.
De uns anos para cá, tenho visto isso acontecer com meus pais. Idosos, eles estão se tornando cada vez mais frágeis e mais dependentes de mim e de minhas irmãs.
Ver as pessoas que sempre foram referência de força e segurança se tornarem mais vulneráveis não é fácil, mas será que há uma forma mais correta de encarar essa situação?
Em busca de resposta, conversei com a psicóloga e professora universitária, Iara Meireles, que é especialista em tanatologia e enfrentamento do luto; e com Marcia Sena, que fundou a Senior Concierge, empresa que oferece uma equipe especializada em diferentes serviços para idosos.
Farmacêutica e Bioquímica de formação, Marcia era executiva de uma grande empresa farmacêutica e tinha uma rotina de viagens frequentes ao exterior quando viu seus pais precisarem de mais apoio e cuidado.
Estudando sobre o assunto, ela descobriu que em países mais desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e Japão, essa questão já foi bastante estudada e há até um nome para o grupo de pessoas que passa por isso: geração sanduíche.
A denominação tem a ver com o fato de esses indivíduos terem que cuidar ao mesmo tempo dos pais e dos filhos. E para complicar ainda mais o cenário, é comum que essas pessoas estejam no auge da vida produtiva, no topo da carreira, com muitas tarefas para realizar profissionalmente.
Era o caso de Marcia. Sem encontrar a ajuda que precisava, decidiu criar uma empresa que fornecesse o serviço que seus pais necessitavam, como um acompanhante para uma consulta, uma compra do supermercado ou um socorro em caso de emergência.
“A missão da empresa é cuidar da parte operacional e ajudar os filhos a usarem o tempo para uma convivência de qualidade com os pais”, diz Marcia.
Além das questões de ordem prática, há também as questões emocionais que envolvem o processo de envelhecimento dos pais. Vê-los mais dependentes traz um aperto no peito e um medo da perda.
Segundo a psicóloga Iara Meireles, uma orientação para esses casos em que a finitude se aproxima é poder desfrutar da convivência de qualidade e criar momentos agradáveis que gerem boas lembranças.
Dessa forma, mesmo após a morte, as memórias permaneceram vivas. “Perder os pais é perder uma parte de si mesmo, pois com eles irão embora muitas histórias que somente eles contavam e compartilhavam”, afirma Iara.
Se a finitude é uma certeza, por que há esse grande tabu? Segundo a psicóloga, isso acontece por questões culturais, sociais, emocionais e religiosas. As sociedades evitam discutir o tema da morte por causar repulsa.
“O medo do desconhecido impede o diálogo sobre este processo que faz parte do ciclo da vida”, diz.
Diferentemente do que costumamos pensar, o oposto de morte não é vida, é nascimento. A vida é tudo que acontece entre o momento que nascemos e o instante em que morremos.
Sabendo disso, vamos viver cada segundo com verdade e intensidade ao lado das pessoas que amamos para fazer valer a pena.