“Diante do medo paralisante e depressivo, a sociedade necessita de esperança. Não me refiro a uma esperança sedativa, que adoce a realidade, mas uma esperança sustentada por fatos, dados, que mostre, inspire e incentive uma mudança possível.” Essa frase de Alfredo Casares, jornalista espanhol, fundador e diretor do Instituto de Jornalismo Construtivo, na Espanha, e autor do livro “La hora del periodismo constructivo”, diz muito sobe o propósito que levou a mim e outros representantes de veículos de 20 países a se reunirem no EBU Kids News Meeting (European Broadcasting Union), encontro sobre jornalismo infanto-juvenil, que apresenta melhores práticas e discute os desafios atuais do setor.
Realizado em Copenhague, na sede da DR (Danish Broadcasting Corporation), uma organização de serviço público, maior e mais antiga empresa de mídia eletrônica da Dinamarca, o seminário foi uma incrível troca de experiência entre publishers e jornalistas de diferentes países.
O foco maior de nossas discussões foi o jornalismo construtivo. Como podemos praticar um jornalismo que não seja pautado no sensacionalismo, no catastrofismo ou em notícias negativas?
O que fazer para empoderar crianças e jovens para que se tornem cidadãos conscientes e bem-informados para garantir um mundo mais democrático e menos suscetível às fake news?
Ainda não há respostas para todas as perguntas, mas sabemos que estamos no caminho. É consenso entre todos a importância de haver veículos de comunicação e canais específicos para falar com esse público para captar sua atenção e engajá-lo na missão de ser um cidadão responsável.
Também ouvimos palestras sobre como aumentar o engajamento nas redes sociais e sobre as características da geração Alpha, crianças nascidas entre 2010 e 2024.
O evento foi uma continuação do encontro que tivemos aqui no Brasil, em novembro de 2023, sobre o qual escrevi essa coluna.
Ao longo das duas semanas também visitamos diferentes redações na Dinamarca, Suécia, Finlândia e Noruega. Ouvindo representantes de programas especializados no público infanto-juvenil de diferentes países, pude notar que temos um desafio semelhante: o de sensibilizar a sociedade para a importância de formar e informar as crianças.
O mercado infanto-juvenil ainda não recebe a prioridade que merece e há uma necessidade urgente de mostrar resultados para atrair maiores investimentos.
Fiquei feliz de ver que temos produtos, como o Jornal Joca e o TINO Econômico, que estão à altura dos benchmarks internacionais. Mas temos um desafio adicional, pois estamos num ambiente muito mais desafiador, com menos dinheiro e mais dificuldade para chegar a um número muito maior de leitores.
A realidade dos países nórdicos é bem diferente da nossa. A maior parte dos participantes que lá estavam fazia parte de empresas públicas, que têm um grande alcance pelo país.
Por outro lado, o modelo de negócio que desenvolvemos na minha empresa, a Magia de Ler, de chegar aos novos leitores através das escolas, é algo que esses veículos internacionais ainda não conseguem fazer. Recebi muitas perguntas a respeito. Estavam todos bem interessados em aprender com a nossa experiência.
Mais áudio e vídeo
Aprendi muito com eles sobre produções audiovisuais e o uso de diferentes canais de comunicação como o YouTube e WhatsApp. Os programas jornalísticos em vídeo que eles produzem são interessantes, divertidos e informativos, ao ponto de realizarem uma premiação para o melhor vídeo noticiário para o público infanto-juvenil.
A vencedora este ano foi a Islândia, com uma produção sobre a greve das mulheres pelo direito à igualdade salarial.
Retornei ao Brasil disposta a colocar em prática todos os ensinamentos. Temos muito a fazer, mas acredito que estamos no caminho certo para formar cidadãos bem informados e capazes de fortalecer a nossa democracia.