Falar nunca foi minha forma preferida de me comunicar. Gosto mais de escrever, pois assim consigo colocar para fora pensamentos e ideias de forma mais elaborada. Além disso, o que está escrito carrega outra vantagem, pode ser lido e relido no futuro, o que me ajuda a identificar as mudanças em minha maneira de pensar.
Este certamente foi um dos motivadores para eu começar a escrever para os meus filhos. Desde que eles nasceram, comecei a criar um álbum com anotações sobre datas importantes e acontecimentos (grandes e pequenos) de suas vidas, seja um machucado, um novo aprendizado ou uma formatura. Coleciono poucas lembranças de minha história. O pouco que lembro é por meio de fotos antigas. Desejando que com os meus filhos fosse diferente, comecei a produção destes álbuns. Queria que vissem de onde vieram e soubessem de tudo o que aconteceu ao longo de suas vidas.
Dois anos atrás, durante meu processo de divórcio, senti que precisava deixar mais do que fotos e anotações. Passei a escrever um livro com o intuito de deixar registrada a minha visão sobre fatos que talvez estivessem sendo mal-entendidos por eles. Com 12, 15 e 17 anos, eles estão numa idade que não costuma ser de muito papo. Assim, encontrei nos textos uma forma de apresentar a eles o que penso e como enxergo a vida.
Sem verdades absolutas
Levei anos de terapia para perceber que não existe uma só verdade, que entre o preto e o branco existe uma infinidade de cinzas e quero mostrar isso a eles. Não tenho a intenção de dizer o que é certo e errado, o que é justo e o que não é. Quero apenas apresentar a forma como vejo a vida e como sinto e reajo ao que me acontece. Inclusive, algumas das colunas que escrevi aqui na Claudia, serviram de inspiração para as cartas e vice-versa. Já escrevi a eles falando da diferença entre existir e viver, sobre a importância de saber identificar as emoções e sobre as fases do processo de luto, por exemplo.
Minha esperança é que eles um dia possam ler e que isso os ajude se conhecerem melhor. Não por acaso, defini que este livro seria feito de capítulos curtos e independentes, em forma de carta, para que possam ser lidos aos poucos.
Ficaria feliz se esta obra funcionasse como um atalho para o autoconhecimento de cada um deles. Muitas vezes eu os vejo impondo suas opiniões de maneira tão rígida e aí me lembro que eu também demorei para entender que não precisamos ser irredutíveis com nossas ideias e que mudar o jeito de pensar faz parte do crescimento. Tanto que em alguns anos pretendo revisitar meus escritos para conferir se minha visão sobre o mundo estará diferente. Se estiver, pretendo comentar cada um dos capítulos, contando da minha mudança de pensamento ao longo dos anos e os meus aprendizados.
Este exercício de colocar no papel o que tenho a dizer me traz muita paz. É difícil explicar o que sinto. Com o livro Uma Jornada Com Propósito, que publiquei sobre minha trajetória incluindo a criação do Joca foi a mesma coisa. Escrevi com intuito de deixar minha história registrada. Conheço tão pouco sobre meus avós paternos e maternos, não gostaria que acontecesse o mesmo com meus filhos e netos. O que eles vão fazer com isso é com eles. Vou apenas entregar as cartas e torcer para que façam o melhor uso, aprendendo com meus erros, vibrando com meus acertos e, consequentemente, me conhecendo um pouco melhor.
E quem sabe minha iniciativa não inspira outros pais a fazerem o mesmo, deixando suas memórias registradas, seja em forma de texto, álbum de fotos ou desenhos para que seus filhos possam conhecê-los melhor.