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Stéphanie Habrich

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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.
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Por que a matemática é tida como acessível apenas para poucos estudantes?

Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, o Brasil é o pior país da América Latina em matemática

Por Stéphanie Habrich
17 nov 2021, 11h00
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  • Cerca de 68% dos estudantes brasileiros de 15 anos não possuem o nível básico de matemática, considerado o mínimo para o exercício pleno da cidadania. É o que aponta o mais recente levantamento do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgado em dezembro de 2019.

    A pesquisa ainda revela que o Brasil é o pior país da América Latina em matemática e que somente 0,1% dos 10.961 estudantes que participaram do estudo possuem o nível máximo de proficiência na área.

    Pensando nessa dificuldade dos estudantes brasileiros com a disciplina, o Instituto Sidarta, em Cotia/SP, lançou o programa Mentalidades Matemáticas. “Se conseguirmos difundir que todos os estudantes são capazes de aprender matemática, vamos alterar essa mentalidade fixa de que ela é só para alguns. É preciso esforço e dedicação por parte dos estudantes e que eles se arrisquem em um ambiente seguro de aprendizagem”, defende Claudia Siqueira, diretora do Instituto.

    A matemática não pode ser apresentada apenas a partir de problemas. Quando uma criança ou adolescente relaciona a matemática somente a esse tipo de pergunta, perde-se a oportunidade de aproximá-lo do que está sendo estudado e o conteúdo torna-se distante e desconexo da sua realidade.

    É por isso que a iniciativa é uma parceria com o Joca, jornal para crianças e adolescentes que fundei há dez anos. Através dos gráficos, tabelas e infográficos presentes nas páginas do veículo, os estudantes são desafiados a compreender a matemática presente do cotidiano a partir de acontecimentos diários do Brasil e do mundo.

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    Do mesmo modo que o jornal faz com que seus leitores se sintam protagonistas da sociedade e do mundo por estarem a par dos fatos, o Mentalidades Matemáticas alia o conhecimento dos dados às experiências dos estudantes, o que faz com que eles se encontrem no centro das questões que enfrentam na disciplina.

    A matemática sai do plano escolar – visto como algo utilizado esporadicamente pelos estudantes, apenas dentro da escola – e é usada como algo inerente à vida de cada um.

    Assim, o aprendizado vai se tornando um processo orgânico conforme a curiosidade da criança ou adolescente é instigada. O modelo de jornalismo do Joca, que estimula o pensamento do leitor ao contextualizar cada informação, ensina os jovens a fazerem associações que transcendem o ato de “aprender” o que está sendo passado.

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    É exatamente esse o estilo da abordagem que o Mentalidades Matemáticas busca incorporar ao ensino e aprendizagem desta área do conhecimento, de modo a trazer conteúdos para a realidade dos estudantes conforme sua curiosidade é aguçada e provocada.

    Entre erros e acertos

    Os estudantes vivem a matemática todos os dias – processo que se inicia muito antes do ingresso à escola. Por isso, é necessário que o ensino da disciplina seja visto como um aliado das suas rotinas. Assim, os jovens poderão entender que, como os desafios que enfrentam no dia a dia, não existe uma só forma de resolver as questões com as quais se deparam no momento do estudo. “Nós acreditamos que todos os estudantes são capazes de aprender em altos níveis”, pondera a diretora.

    Quando um desafio ou questão são propostos a um aluno, é comum que o professor olhe apenas o resultado – muitos, inclusive, pedem que essa parte seja feita à caneta para que não seja alterada, enquanto os cálculos que levaram o estudante até ali podem ser feitos à lápis. “Hoje em dia vemos a importância de considerar o processo e como o estudante pensou. O professor pode, por exemplo, propor um problema e questionar de quantas formas se pode chegar ao resultado, o que faz com que os estudantes consigam evidenciar que existem mais uma forma além da que o professor apresentou, dando maior flexibilidade ao aprendizado” afirma Claudia.

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    Apoiado nos estudos da neurociência, o programa discute como o erro é um elemento essencial para o aprendizado. Enquanto o ensino clássico tende a condenar as tentativas que não têm sucesso, o Mentalidades Matemáticas defende que elas devem ser trabalhadas como parte do processo de aprendizagem por serem essenciais para o desenvolvimento da resiliência. Além disso, o erro tem um novo lugar na aprendizagem, o que significa uma alteração importante na cultura escolar.

    Para mim, é evidente que a matemática, principal dificuldade dos brasileiros no ensino básico, deve ser repensada para atender às necessidades dos 68% dos jovens de 15 anos que não possuem o nível básico da disciplina. Basta entendermos que, se continuarmos normalizando a dificuldade de crianças e jovens e não formos além das fórmulas do que se propõe o ensino atual, distanciaremos, cada vez mais, estes do pleno direito da sua cidadania.

    Da mesma forma que temos, em nosso país, programas para acabar com o analfabetismo, precisamos investir para garantir o letramento matemático, pois a lógica antecede a escrita. Temos que unir estas duas metas para garantir que possamos fazer parte de uma nova estatística.

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