A dependência tecnológica talvez seja um dos maiores problemas que atingem os jovens na atualidade. Em setembro, a questão virou até tema de discussão entre políticos, depois que o governo da China anunciou que começaria a restringir a quantidade de horas que os jovens passam no videogame e no TikTok, aplicativo popular entre essa faixa etária.
No discurso, as autoridades chinesas afirmam estar preocupadas com os efeitos do excesso de tecnologia entre crianças e adolescentes e, por isso, querem diminuir o tempo que eles passam em frente a telas.
Assim, as novas medidas impostas pelo governo determinam que, a partir de agora, menores de 18 anos só podem jogar online entre 20h e 21h na sexta-feira, fins de semana e feriados. Além disso, menores de 14 anos só terão permissão para usar o TikTok (que por lá atende pelo nome de Douyin e possui regras diferentes das de outros países) durante 40 minutos por dia.
Logo depois do anúncio do governo chinês, começamos a preparar uma matéria sobre o assunto para ser publicada no Joca, jornal para crianças e jovens que fundei há dez anos. De vez em quando, eu visito algumas escolas assinantes para dar oficinas sobre jornalismo infantojuvenil e conversar com os alunos sobre as notícias que serão publicadas na edição seguinte.
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Então, é claro que eu não poderia deixar de discutir a decisão das autoridades chinesas com os estudantes. No meio de nossa conversa, brinquei com os alunos dizendo que medidas como aquelas poderiam, um dia, ser implantadas no Brasil.
Ao ouvirem aquilo, eles ficaram revoltados e disseram que, se algo assim realmente acontecesse, iriam para as ruas protestar contra a decisão. De fato, trata-se de uma questão complicada e que certamente provoca muita polêmica – como pude testemunhar por conta própria nessa escola em que visitei.
Portanto, nesse artigo, não pretendo indicar soluções para o problema (até porque não sou especialista no assunto). Meu objetivo aqui é falar sobre a dependência tecnológica entre jovens e ajudar as leitoras a refletir sobre o que pode ser feito para minimizar o vício. O que a ciência e os especialistas dizem sobre a dependência tecnológica? A questão do uso excessivo de tecnologia atinge o mundo todo.
Tanto que, em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) inseriu o vício em games na sua lista de doenças modernas. Segundo o órgão, aqueles que possuem o transtorno de games, como a condição foi chamada, não conseguem controlar o tempo, a frequência e a intensidade em que ficam jogando (independentemente se estão no celular, tablet ou computador) e sempre priorizam os jogos em detrimento de outras atividades.
Vale ressaltar que essa falta de controle pode provocar uma série de problemas de saúde, especialmente quando estamos falando de crianças e adolescentes, que ainda estão em fase de desenvolvimento. Estudos mostram que a tecnologia pode causar ou agravar casos de ansiedade, depressão, falta de concentração, insônia, baixa autoestima, problemas de postura, entre outros.
Além disso, o vício pode provocar problemas na escola e na vida social do jovem. Em entrevista à BBC Brasil, Cristiano Nabuco, PHD em psicologia e coordenador do Grupo de Dependência Tecnológica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), explicou que os jovens têm mais chances de ficar dependentes da tecnologia, pois o cérebro só se desenvolve completamente a partir dos 21 anos, o que faz com que tenham dificuldade para controlar impulsos – no caso, o de ficar longe das telas.
É por isso que, muitas vezes, os jovens sabem que não devem passar muito tempo usando a tecnologia, mas, mesmo assim, não conseguem ficar longe delas. Parece ser uma força maior do que eles, como alguns deles descrevem a situação.
Nabuco ainda explica que, no quesito dependência tecnológica entre jovens, comparando com outros países, a situação do Brasil não é a das melhores.
A frase do psicólogo vai ao encontro de algumas pesquisas feitas sobre o assunto. Um estudo produzido pela consultoria Deloitte, por exemplo, mostrou que dois em cada três pais acreditam que os filhos usam smartphones exageradamente.
Diante de tudo isso, é importante que, nós, pais, responsáveis, professores, psicólogos e adultos em geral nos debrucemos sobre essa questão com a atenção que ela merece. Por mais difícil que seja afastar os jovens das telas, precisamos começar a pensar em soluções para minimizar o problema.
Nesse sentido, cada família pode adotar a estratégia que achar melhor e que combine mais com os seus valores. Se você não concorda com a ideia de controlar o tempo que seu filho passa nas telas, por exemplo, não tem problema. O importante é não desistir: procure pensar em outro caminho, algo que faça sentido para você e para a criança ou adolescente que está sob os seus cuidados.
Um dia, tenho certeza de que nossos jovens nos agradecerão por esse esforço.