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Stéphanie Habrich

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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.
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Ensinar a discutir: como aprender a debater de forma saudável

Será que não há uma forma de debater de maneira saudável, sem que nenhuma parte se sinta lesada?

Por Stéphanie Habrich
15 out 2020, 13h00
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  • Poucos períodos da vida em sociedade estimulam tanto o debate de ideias quanto a época das campanhas eleitorais. Neste momento, além das eleições municipais no Brasil, que mexem com todo o país, ocorre a corrida presidencial nos Estados Unidos, que tem impacto no mundo todo e, invariavelmente, se torna pauta de muitas discussões por aqui.

    Porém, ao mesmo tempo em que a mesa está cheia de assuntos passíveis de debate, temos visto um número cada vez maior de pessoas que preferem não conversar sobre política para evitar atritos com quem pensa de maneira diferente. Mas será que é essa a mensagem que queremos passar para os mais novos?

    Se o senso comum diz que o debate é importante para a formação de indivíduos críticos e conscientes, por que estamos nos privando dele? Será que não há uma forma de debater de maneira saudável, sem que nenhuma parte se sinta lesada?

    É claro que não há resposta fácil. No entanto, acredito que estimular e ensinar os jovens a discutir com harmonia seja uma das formas de começar a construção de uma sociedade mais tolerante a ideias contrárias. E o período eleitoral, esse momento em que há tantos modos de pensar em jogo, pode ser um ótimo pano de fundo para isso.

    Opiniões próprias e respeito a pontos de vistas diversos

    Cada pessoa tem uma maneira de pensar. Portanto, antes de mais nada, é importante que os adultos tenham em mente que não cabe a eles impor aos mais novos a sua forma de encarar o mundo. Como tutor, a missão é auxiliar, mostrar o caminho que fará com que crianças e adolescentes descubram por si próprios o que pensam sobre determinado assunto.

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    A meu ver, uma das melhores formas de fazer isso é, de maneira despretensiosa, conversar com os jovens sobre acontecimentos que estão em destaque no noticiário. Muitas vezes, estou jantando com meus três filhos ou levando-os de carro para a escola (o que acontecia todos os dias antes do início da quarentena) e, a partir de uma notícia que ouvimos no rádio, pergunto, de forma natural: “Vocês ouviram isso? O que pensam sobre esse assunto?”. Esse é um exercício muito rico, que estimula todos nós a refletir sobre o fato e a pensar o que achamos dele – não é necessário chegar a uma conclusão, o importante é iniciar uma linha de pensamento nesse sentido. Uma vez que estamos interagindo, podem surgir ideias opostas a respeito do mesmo assunto. O que também é saudável para todos os lados envolvidos.

    Certo dia, comecei a conversar com os meus filhos sobre uma ativista que desempenha um trabalho que eu admiro bastante. Sempre fui muito fã dela. Li a sua biografia e me mantinha informada sobre as suas últimas realizações. Mas, nessa discussão, meus filhos começaram a compartilhar comigo informações que eu não conhecia e demonstraram que tinham uma visão crítica sobre a ativista. Escutei com atenção tudo o que eles diziam e, a partir de suas argumentações, fui me dando conta de que não havia me atentado para facetas negativas. Percebi que, até então, estava ouvindo apenas um lado da história.

    Para mim, essa cena reforça duas lições que nós, adultos, devemos nos lembrar constantemente: 1) as opiniões dos jovens podem ser pertinentes e temos muito a aprender com elas; 2) quando a família estimula discussões saudáveis, em que a escuta e o respeito ao próximo prevalecem, os jovens aprendem, como que por osmose, que é possível ter um debate de ideias contrárias de forma harmoniosa. Esse ensinamento poderá ser levado para a escola, para as conversas com os amigos e, na vida adulta, para os relacionamentos com chefes e colegas de trabalho, por exemplo.

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    Para que isso aconteça, os adultos têm que servir de exemplo. Ao entrarem em uma discussão – seja com os próprios filhos ou com outras pessoas –, é importante que se esforcem para demostrar interesse pelo o que o outro está dizendo, respeitem o posicionamento dos demais e estejam dispostos a mudar de opinião, dependendo das circunstâncias.

    Discutir ideias é saudável: nos tira da zona de conforto, estimula a refletir de forma mais ampla e fortalece a democracia. Essa mensagem precisa ser passada aos mais novos. Por isso, acredito que a nossa missão, como pais e responsáveis, não seja ensinar os jovens a fugir de determinados assuntos só porque eles podem gerar atritos. Na verdade, nossa tarefa consiste em reforçar a importância de refletir sobre o mundo que nos cerca e mostrar às crianças e adolescentes que é possível compartilhar e ouvir opiniões de maneira respeitosa.

    Certamente, a sociedade como um todo nos agradecerá.

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