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Stéphanie Habrich

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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.

A culpa tem cura?

A autocobrança a que nos submetemos traz um peso enorme que freia nossa vida e nos impede de virar a página e seguir em frente

Por Stéphanie Habrich Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
15 mar 2023, 07h13
culpa
Os momentos em que senti mais culpa foram aqueles em que meu desejo de acertar eram maiores. (Khoa Võ/Pexels)
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Qual será a cura para nossas culpas? Esta é uma pergunta sobre a qual tenho refletido nos últimos tempos. A culpa nos atinge quando nos responsabilizamos por algo danoso que tenha acontecido a alguém, ainda que esse alguém seja nós mesmos. Eu não seria capaz de listar todas as passagens de minha vida em que me senti culpada, elas são incontáveis. Mas não estaria exagerando se dissesse que os momentos em que senti mais culpa foram aqueles em que meu desejo de acertar eram maiores.

O principal deles, com certeza, foi a maternidade. Difícil ser mãe e não se sentir culpada. Tem até uma frase popular que brinca com os dizeres “quando nasce uma mãe, nasce uma culpa”. Para entender um pouco melhor o porquê deste sentimento, conversei com Marina Simas, que é psicóloga e co-fundadora do Instituto do Casal. Ela me falou que a origem de tanta culpa está na idealização, especialmente no que diz respeito ao ato de ser mãe. “Tudo relacionado à maternidade tem que ser muito perfeito”, diz.

Ao longo dos anos este sentimento ficou mais latente, porque o papel das crianças no dia a dia da família se tornou muito diferente. Antigamente, elas eram subjugadas, ficavam separadas dos adultos e não podiam participar das conversas dos pais. Hoje, o cenário é outro. Em boa parte das casas, tudo é decidido e feito em função da criança ou do adolescente que ali está. “Os filhos ganharam um papel muito central. É comum ver as mães abrindo mão do casamento, da vida profissional e social em função da maternidade”, afirma Marina.

De onde vem a culpa?

A culpa vem do social, do que as pessoas gostariam de viver e de apresentar ao mundo, mas não conseguem. “As mulheres têm dentro delas um cobrador interno que coincide com o olhar de fora da sociedade, que também impõe muito essa perfeição. É aí que nasce a culpa”, diz Marina. Haveria um antídoto para isso? “Se não houver esse ‘match’ entre a cobrança interna e externa, não haverá culpa”, explica a psicóloga. Ou seja, se conseguíssemos levar a vida de maneira mais leve, sem tantas cobranças, cientes e tolerantes com nossas limitações, a culpa não seria tão frequente.

Quando se trata de maternidade, o filho não vem com manual de instrução. A leitura de livros, a consulta de sites e as ordens dos pediatras ajudam, mas não são garantia de sucesso para entender todas as demandas dos filhos logo de cara. Leva um tempo para mãe e filho se entrosarem. E até que isso aconteça, a única certeza é o cansaço. E quem consegue raciocinar bem depois de noites seguidas em claro?Durante a gestação, nos imaginamos invencíveis e acreditamos que é dever de mãe dar conta de tudo sozinha. Somos reticentes a pedir ajuda, porque a cobrança interna sussurra em nossos ouvidos que é errado “terceirizar” a criação. Todos precisam de uma rede de apoio. Pedir ajuda não é terceirizar.

“As pessoas estão muito radicais, com valores muito rígidos, não há nada de errado em dizer estou no meu limite, quem pode me ajudar?”, pontua Marina. Fora da maternidade também existe muita culpa e a raiz de todas é a mesma, a nossa cobrança. No trabalho nos cobramos a fazer sempre mais, a sermos mais eficientes, a nos anteciparmos aos problemas. Mas, se o resultado não ficou dentro do esperado pelos outros ou a promoção tão aguardada acabou não vindo, nos colocamos para baixo. Na minha vida profissional, com o passar dos anos, encontrei uma forma de minimizar essa culpa. Minha tática é fazer sempre o melhor que posso em cada tarefa. Quando entrego algo, estou segura de que fiz o que podia para que o resultado fosse o melhor dentro do tempo disponível para a entrega. No entanto, usar esse mesmo raciocínio na criação dos filhos é mais difícil. A sensação de culpa quando algo não dá certo no meu relacionamento com eles é quase inevitável. Ainda que eu faça o meu melhor, fico me questionando por não ter feito de outro jeito

.Os filhos também sofrem com isso

Segundo Marina, os filhos não estão imunes a este sentimento de culpa. A mesma imposição de perfeição que pesa sobre pais e mães, pode pesar sobre os filhos também. E, mais uma vez, o que é preciso fazer para remediar o problema é baixar o grau de cobrança. “Se o filho errar, vale a pena dizer que está tudo bem, reforçando o que ele fez de correto e dizendo o que ele pode fazer para melhorar na próxima”, afirma. A cobrança dos pais pode ser um gatilho para a culpa, pode fazê-los pensar que não são bons o suficiente. No outro extremo, a complacência também é prejudicial, pois pode criar adultos incapazes de suportar adversidades. “Muitas vezes a gente vai falar não e vai se sentir muito culpada, mas tem que dizer, senão cria-se pessoas superprotegidas, sem preparo para enfrentar a vida adulta”, diz Marina. É melhor culpar-se pelo não do que se arrepender no futuro de ter dito o sim.

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