Quando esbarro no que quer de mim
Tem dias em que eu, sozinha, também não caibo no mundo. Em outros, é ele quem não cabe em mim
Cresci com a sensação de que tenho o corpo maior do que dou conta. A cada dia, um novo roxo na perna, um dedo que sobra na esquina do móvel, uma trombada inesperada. Já cansei de errar o tamanho da porta, golpear pessoas pelo caminho, tropeçar na calçada que parecia tão distante. Tem dias que fico com a sensação de que meus 1,60 metros não cabem no mundo. Mas tem outros em que tenho certeza de que quem não cabe em mim é ele.
Desengonçada, distraída, atrapalhada. E de tão atrapalhada, outro dia topei na expectativa que tinha de mim. Falei alto, quando queria que eu fosse mansa. E me enrosquei naquela resposta sincera, que deveria ser acolhedora. E esbarrei no desejo, quando o que você queria era paz.
Me sinto como a Alice, gigante, naquela casa que encolheu. Não, não foi a casa que encolheu. Foi ela que inflou, derrubando tudo pelo caminho, até que o teto fosse para os ares e não sobrasse mais nada. A não ser a poção mágica. E, então, bebi da última gota. Bebi e fui ficando pequenininha, na casa imensa, sem teto e com a mobília pelo chão. Sem alcançar a maçaneta, me vi presa.
A verdade é que não caibo nelas, nas suas expectativas, naquilo que quer de mim. E, honestamente, elas também não cabem aqui. Não cabiam no país das maravilhas, que dirá nesse nosso mundo tão, tão real. Não consigo ser o que espera que eu seja, porque aí você não vai mais me encontrar. Vou desaparecer no meio da nossa bagunça. Mas também não posso ser eu, enquanto elas estiverem no meio do caminho, porque, então, vou viver tropicando nelas. E isso dói, sabe?
Eu não sou a sua pessoa ideal. Não quero ser sua pessoa ideal. E não quero porque ser eu mesma já é trabalho o bastante. Tem dias em que eu, sozinha, também não caibo no mundo. Em outros, é ele quem não cabe em mim.
Mas eu adoraria me aventurar por aí com você, fora dessa casa, sem saber ao certo se no final vai valer a pena. Só ir e ponto. Só ir para ver no que vai dar. Mas quero fazer essa viagem carregando apenas a minha mochila nas costas. E você carrega a sua. Eu te ajudo um pouco, você me ajuda outro tanto. A gente deixa uma parte da bagagem na cidadezinha mais bonita, compra umas bugigangas na feirinha mais colorida e segue ficando com o que é nosso. Você topa?