Quando a gente termina, se sente avulsa no mundo. Uma sensação de incompletude, de que nada nunca voltará para o lugar, um enorme vazio. Términos são fins sim. Pontos finais sim.
Adeus, se não à pessoa com quem nos relacionávamos, à rotina, alguns lugares e muitos planos. É como se a gente pegasse aquele mapa da vida, desenhado a quatro mãos, e rasgasse. Ai, como dói não saber a próxima rota e, mais ainda, quem vai pilotar o trem com a gente.
Eu acho mesmo que a gente se avulsa, se descompleta, se desorganiza e se esvazia quando a relação acaba. Não é só uma sensação, um delírio. É para valer. Porque crescer sob as leis do “felizes para sempre” nos torna incansáveis buscadoras de amores que envelheçam com a gente, que completem nossas faltas, que estanquem nossas feridas e preencham cada silêncio, o tédio, todos os espacinhos.
E, aí, a gente vai espalhando nossos amores como se fossem uma massinha de modelar. Apertando para dar conta de toda a superfície da vida, até que se tornem uma película quase transparente. Mas estão lá, em tudo.
E quando saem assusta tanto que a gente nem se dá conta de que, na verdade, não estavam sustentando nada. O alicerce era a gente mesma, o tempo todo.
Então, a gente se desarranja para rearranjar. Ou para ficar em desarranjo, que pode ser ainda mais interessante. Se bagunça para se encontrar. Se esvazia para dar conta de que é possível aceitar alguns vazios.
Se descompleta para perceber que completude é uma ilusão das mais cruéis. Se avulsa para não precisar de par. Porque a gente não precisa e saber disso abre caminhos para o desejo.
Mas não é romântico. Nem poético. É bruto e exige tempo. E exige coragem. Coragem! A luz não está no fim do túnel, mas no seu percurso. Avante!