O casal reduz a frequência sexual ou para de transar de vez. Ele silencia, faz de conta que não é com ele. Ela se desespera e parte em busca de uma solução, afinal, o problema só pode ser com ela. Será o anticoncepcional? Alteração hormonal? A loungerie velha? Estresse?
É bem verdade que todas essas podem ser causas ou fatores agravantes da falta de libido. Mas, na maioria das vezes, a ausência de sexo não está relacionada à libido em si ou a ausência de desejo apenas de um dos lados.
Aliás, é muito comum que ao longo dos anos, com a dissipação daquela energia intensa dos inícios de relacionamento, as transas fiquem mais espaçadas. É comum também que ao conhecermos inteiramente aquela outra pessoa, distante das nossas idealizações e sem mais mistérios a revelar, percamos um tanto da atração sexual. Ser comum, no entanto, não a torna uma sentença irrecorrível.
Mas, mais importante que saber que existem soluções, é saber que a responsabilidade em buscá-las não é só nossa.
Enquanto mulheres, estamos acostumadas a carregar nas costas todas as culpas e responsabilidades em torno dos relacionamentos. Isso acontece porque, de alguma forma, mesmo que tenhamos uma vida profissional e pessoal para além da relação a dois, ainda atrelamos a nossa identidade e valor a esse único âmbito da vida.
Como disse a pesquisadora Valeska Zanello, autora do livro Saúde Mental, Gênero e Dispositivos: Cultura e Processos de Subjetivação, “os homens aprendem a amar muitas coisas e as mulheres aprendem a amar os homens”. Assim, permanecemos sempre presas à necessidade desse papel e a obrigação de mantê-lo a qualquer custo, inclusive no que tange às questões sexuais.
Ao menor sinal de que algo não está de acordo com o esperado, nos desesperamos e naufragamos em culpa. Mas se é um relacionamento entre duas pessoas, então por que a responsabilidade deveria recair apenas sobre uma?
O resultado dessa busca unilateral é apenas um: frustração. Não se resolve “problemas” de casal sozinha. E uso “problemas” assim, entre aspas, porque muitas vezes a diminuição da frequência sexual se torna um problema muito mais pela pressão externa do que pela insatisfação do casal. Frequência sexual, já disse e repito, não é termômetro de saúde na relação. Mas a parceria, ou a ausência dela, é.