Logo de início, uma condição: a relação precisaria ser não-monogâmica. Àquela altura, convicta de que essa seria a única maneira possível de me relacionar e manter intactas minhas certezas sobre o amor, estabeleci minha vontade. Ela, incerta e receosa, topou mesmo assim. Corajosa, pensei.
Eu mesma estava cansada de precisar controlar meus desejos, de não me sentir plenamente quista, de silenciar minhas facetas mais ousadas. Tinha medo de entrar em mais um longo relacionamento em que o tesão desapareceria e o sexo se tornaria algo mecânico, apenas.
Não suportava a ideia de me sentir presa e me perder de mim. Mas de que servem nossas certezas se não para serem questionadas?
Há em mim uma Sofia que adora romper com que está estabelecido. Essa Sofia que entende que amar precisa ser livre e que exclusividade é por si só uma regra fadada à ruptura. Alguém que sente repulsa pela noção de cercear o desejo alheio, invadir pensamentos, controlar agendas.
Mas há também uma outra Sofia. Aquela que faz planos de vida, quer envelhecer ao lado da mesma pessoa e encontrar, todos os dias, o mesmo corpo ao se deitar. Uma romântica inabalável, determinada a conquistar a parceria a cada manhã. A minha versão que tem apetite pela intimidade, pela rotina, pelo roteiro, pelo barato de mergulhar mais e mais fundo no mesmo alguém.
E agora, colocando no papel, entendo que sequer são duas facetas, mas uma só. A mesma pessoa que acredita no amor livre e, exatamente por isso, escolhe ficar.
A mesma eu que quer abrir mão do controle e por isso vincula-se com afinco. Que por saber que o desejo não pode ser cerceado, deseja com mais voracidade aquela que está ao seu lado.
Desde que oficializamos a nossa relação, não tive vontade de estar com mais ninguém. Isso não torna o nosso amor mais especial. Mas prova que liberdade não é sobre estar com múltiplas pessoas, mas sobre poder, de verdade, escolher com quem e como caminhar. Temos escolhido caminhar em dupla e tem sido uma delícia assim.