Foi em 2019 que escutei, pela primeira vez, sobre a possibilidade da Prada levar seu nome às seções de maquiagem e skincare das lojas. Um ano antes, a grife já tinha anunciado que não renovaria a parceria com a Puig para o desenvolvimento de fragrâncias. Na época, a Carolina Herrera, irmã de grupo da marca italiana, ainda não tinha lançado seus itens de make. Então, fazia todo sentido uma transição para a L’Oréal, a multinacional francesa que é conhecida pela sua expertise na criação de cosméticos. No entanto, o movimento ficou no burburinho, quase esquecido, até o final de julho deste ano, quando as primeiras imagens da linha de beleza finalmente foram divulgadas. Ou seja, Miuccia não abandonou sua ideia mesmo tendo uma pandemia dividindo esses dois momentos, o do plano e o da execução de fato.
Batons, bálsamo para lábios, sombras, base, pincéis, hidratante nas versões sérum ou creme e removedor de maquiagem fazem parte da primeira leva de lançamentos que prometem rechear os nécessaires pretos de nylon (ou re-nylon, como é chamado o tecido feito de plástico reciclado da marca), sempre em suas embalagens prateadas, com um quê futurista. E os códigos de moda estão todos ali. Enquanto o logo triangular icônico dá o formato das paletas de sombra vibrantes, o couro saffiano, textura-assinatura das bolsas e objetos de couro da marca, decora os batons. A cartela de cores também carrega uma informação importante relacionada às coleções de prêt-à-porter criadas pela Sra. Prada. O mix de tonalidades das paletas Prada Dimensions é resultado da seleção feita a partir de 27 mil amostras de tecido do seu arquivo, sendo a maioria das queridinhas estampas art déco da estilista. Já os tons nude dos batons Monochrome Hyper Matte Durable Weightless Lipcolor são uma espécie de homenagem ao primeiro desfile de Inverno 1988, quando o ready to wear foi instaurado na label.
Outro début, que segue o ritmo da grife italiana, é da Rabanne – ex-Paco Rabanne após o rebranding. Para celebrar os seus 60 anos, a maison que só conhecia o universo da perfumaria decidiu explorar esse novo território e brincar com cartelas de cores e texturas. A sua coleção de maquiagens, que será apresentada durante a próxima temporada de moda em setembro, reúne tonalidades clássicas do nécessaire feminino, como vermelhos e nudes para lábios e azulados e brilhantes para as pálpebras, em rótulos espelhados inspirados no DNA vanguardista do estilista espanhol, conhecido pelo público fashion.
Enquanto esses lançamentos permanecem fora do nosso alcance, é válido resgatar outras grifes de luxo que já estão há boas décadas dominando esse cenário de beauty, com eficácia e altíssima performance. Com o olhar apurado e a interpretação do diretor de imagem e maquiagem belga Peter Philips, a Dior é conhecida por transformar as tonalidades da estação – e da sua passarela – em desejo absoluto. Além disso, cada um dos produtos apresenta, pelo menos, um dos códigos da maison, seja nas embalagens ou texturas. O cannage, matelassê que resgata o trabalho de acolchoado pespontado da bolsa Lady Dior, é queridinho frequente (e dá até pena de usar, pode acreditar).
Na Chanel, a ideia de destacar seus ícones varia entre tweeds, a clássica combinação preto e branco e a camélia. Inclusive, a flor símbolo da label deu origem a diversas linhas de skincare tendo ela como ingrediente-ativo principal das suas fórmulas. A mais recente e revolucionária é a Nº1 de Chanel, que teve suas pesquisas iniciadas ainda em 2012, a partir da camélia vermelha. O resultado? O seu extrato é rico em ácido protocatecuico, ou PCA, uma molécula da família dos polifenóis conhecida por suas propriedades antioxidantes. Além disso, o ingrediente é responsável por melhorar a elasticidade da pele e reduzir a aparência das linhas de expressão.
No grupo L’Oréal, a irmã da novata Prada é a Armani Beauty, conhecida por traduzir a elegância de Sr. Armani para os cosméticos, a maioria em embalagens pretas com detalhes em vermelho ou metalizado. Os produtos, que seguem ipsis litteris os conceitos de skincare de alto luxo, são elaborados para atingir a expectativa do público em busca de performance e levar a experiência sensorial com fragrâncias leves, que remetem ao universo da etiqueta italiana, como o Crema Nera. É um dos itens mais desejados das prateleiras high luxury e combina uma série de benefícios, como reduzir a visibilidade dos poros, refinar a textura e iluminar a pele.
Diferentemente do que eu escutava na pré-adolescência — que uma marca de moda migrar para o mundo da beleza era entregar só batom ou creme “perfumado”, sem chances para concorrer em nível de qualidade com nomes lendários do mercado, como Lancôme — tenho ficado animada com o esforço atual dessas marcas. Elas têm investido para oferecer alternativas potentes, com grande investimento em tecnologia e, também, sustentabilidade. Muitas delas pensam além e estão pesquisando o que, daqui a alguns anos, poderemos usar e querer na nossa rotina de skincare.