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Por trás da moda

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Renata Brosina é jornalista, host de podcast e editora de moda com foco em luxo e sustentabilidade. Com 15 anos de carreira e alguns títulos internacionais no currículo, ela é curiosa, gosta de entrevistar e vestir pessoas, e analisar as transformações que vêm acontecendo no mercado.
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Afinal, moda pode ser entretenimento?

Nem tudo precisa ser levado tão a sério. Algumas passarelas mostram que há formas de conectar bons looks a uma certa dose de curtição

Por Renata Brosina
16 fev 2024, 07h32
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  • “Será que a moda pode ser entretenimento?” Confesso que fui pega de surpresa com essa questão. É impressionante como, à primeira vista, me parece difícil responder que “sim”. Digo isso porque, como jornalista que nasceu no início da década de 1990 e passou grande parte da infância e adolescência escutando que “moda era uma coisa fútil”, entrar para esse mercado e fazer dele minha profissão me fez reprimir qualquer ideia de superficialidade. 

    Entretanto, a ideia de diversão e descontração pode existir, sim, ainda que a mensagem por trás de cada look na passarela tenha uma profundidade relacionada ao momento em que vivemos. Em outras palavras, o vestuário não precisa ser levado a sério o tempo todo. Por isso, depois de refletir mais, respondi: “Sim”.  A moda pode ser entretenimento.

    Quando penso na estrutura que as grandes marcas de moda construíram, é importante lembrar que, ainda que seus cenários dos desfiles sejam megalomaníacos, existe uma atmosfera que prioriza um discurso.

    Falar sobre o mais recente desfile masculino da Prada é mergulhar em um questionamento que quase ultrapassa o entendimento humano. Miuccia Prada, a herdeira e co-criadora da grife, não mede esforços para criar um diálogo com seu público.

    Em um espaço que trouxe a dicotomia entre o escritório e a natureza, com folhas espalhadas pelo piso transparente que servia como base de computadores e mesas de trabalho, o show explorou verdades fundamentais da humanidade — entre elas, nossos instintos e nossas necessidades emocionais.

    Na coleção, havia a alfaiataria impecável de Raf Simons, co-criador da grife, maxi casacos, suéteres coloridos, além de, claro, o acessório que marcou a passarela: as toucas de natação como gorros em tons vibrantes.

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    A emoção que ultrapassa o fanatismo pela marca (no meu caso, fã absoluta da Sra. Prada) existe quando o inesperado, de fato, acontece. Apesar de já ter me arrepiado em alguns desfiles que assisti in loco, admito que o mais recente a me surpreender aconteceu na Pont Neuf, em Paris — enquanto eu estava em casa, acompanhando por streaming. 

    Pharrell Williams, o então novo diretor criativo das coleções masculinas da Louis Vuitton, fez sua estreia na mais grandiosa cerimônia estruturada pela grife nos últimos anos. A demonstração de poder era absurda, no melhor sentido possível. 

    Quando o espetáculo acabou, percebi como fazia anos que não sentia a força que a moda tinha de contagiar e ultrapassar os limites dos seus insiders. Apesar de toda mensagem levada por Pharrell, seja pela sua própria história (um músico criando roupa?) ou pela continuidade na linha criativa da grife, a sua responsabilidade estava em transmitir o quanto a moda poderia ser divertida — ainda que levada a sério. 

    moda entretenimento
    Apesar de envolta em motivos, a moda tem sim espaço para diversão. (Getty Images. Colagens: Catarina Moura/CLAUDIA)
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    Tudo estava naquela passarela. As roupas eram exuberantes e o discurso, forte, mas não só. Por alguns minutos, foi possível se distanciar da crítica, do peso de “precisar analisar cada alfaiataria” usada pelos modelos.

    A música era excelente (imagine se não seria), o mood despretensioso e, claro, o show de Pharrell ao lado de seu amigo, o rapper Jay-Z, transformaram aquele desfile de moda em uma festa.

    Na mais recente temporada masculina, de Inverno 2024, Pharrell repetiu a dose de um espetáculo na medida certa. Sem shows, mas com uma coleção excelente e coesa, levando seus convidados (e quem assistiu por streaming) de Paris para os Estados Unidos. 

    Lembrar desse encanto, ligado à experiência de curtição, também resgata as exibições quase teatrais de John Galliano na Dior. Em especial para as criações de Alta-Costura da maison.

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    Ao longo dos anos 2000, o estilista inglês foi o responsável pelos arrebatamentos de cada estação — e pelos seus encerramentos com looks temáticos. Sim, ele já foi pirata, bailarino e pintor.

    Apesar da passarela, às vezes, ter a estrutura convencional, suas coleções nos transportavam para outra realidade. Os temas sempre encantavam de uma forma ou de outra — e a roupa (ah, a roupa) era deslumbrante. (O desafio ali era entender quem era exatamente aquela consumidora de alta costura que andaria por aí com peças tão volumosas e mirabolantes.) 

    Apesar de costureiros e diretores criativos excelentes, com seus trajes devidamente impecáveis, o investimento na construção de uma espécie de “fuga” da sala de desfiles não é uma obrigatoriedade e não torna uma coleção superior a outra. Mas isso nos marca de alguma forma.

    Em tempos de Karl Lagerfeld na direção criativa da Chanel, o alemão priorizava a cenografia megalomaníaca. Foguetes, guichês de aeroporto, uma enorme estátua de leão, supermercado e uma construção de data center são alguns dos cenários que o Kaiser apostou para marcar suas apresentações.

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    Ainda que as coleções não tenham sido as minhas preferidas, confesso que ver de perto aquela cena foi de tirar o fôlego. Foi divertido? Foi. Inesquecível? Também. Ponto para Karl. 

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