O que torna o estilo de Lady Di imortal?
Do look esportivo aos vestidos Dior, a eterna Princesa de Gales trazia mensagens disruptivas que indicavam necessidade de modernização na monarquia
Depois de ter ficado algumas temporadas em Londres, e ter vivido imersa na realidade local, a pauta “Família Real Britânica” sempre me despertou zero interesse. Fofocas, mentiras e polêmicas que enchiam o bolso de repórteres e fotógrafos que ficavam por ali, cercando o clã da Rainha Elizabeth II na década de 2010, é o tal do sensacionalismo que quase nenhum jornalista gosta – e a vida desses integrantes, a maioria sem muito carisma, era completamente desinteressante. Exceto Lady Di. Diana Spencer construiu um legado de influência, que vai muito além da beleza e do seu estilo único. Por isso, ainda segue insubstituível e como fonte de inspiração. Mesmo após 25 anos de sua morte.
A figura da Princesa de Gales ainda é lembrada como disruptiva, à frente do seu tempo e, dentro da sua simplicidade, original. A maneira como ela se vestia refletia completamente a sua personalidade e transcendia seu título. Mesmo a bordo de looks luxuosos para eventos de gala ou noturnos, seja de Catherine Walker ou um vestido de Alta Costura da Dior, ela tinha um estilo despretensioso, prático e que se distanciava cada vez mais da imagem tradicional da monarquia – que parecia completamente parada no tempo. E esse contraste era visível ao longo da sua vida pública, que teve uma evolução da forma como ela lidava com cores, estampas, fendas, silhuetas e acessórios.
Se no início da década de 1980, ela era conhecida por apostar em propostas de visuais com peças divertidas e românticas, como o clássico suéter vermelho com ovelhas brancas e as camisas com golas amplas, após a sua separação em 1992, ela passou a brincar com elementos tão casuais que surpreendiam e davam a impressão de “gente como a gente”. Entre eles há o celebrado look construído com jaqueta oversized de alfaiataria, com moletom estampado, calça jeans, botas de cowboy e boné.
O próprio short de ciclista usado com tops amplos e meias esportivas é um combo que segue usado à exaustão – e tem influenciadoras que ainda finalizam o visual carregando a Lady Dior, it-bag feita por John Galliano em homenagem à princesa em 1996. A bolsa, inclusive, segue como um dos maiores ícones da maison francesa, repaginada desde a sua criação pelos estilistas sucessores a Galliano e, para a quinta temporada de The Crown, teve uma grande novidade. Além de ser vista na série, a versão mini carregada por Diana, no ano do seu lançamento, durante o prestigiado Met Gala, foi especialmente reeditada em exclusividade para os episódios – e para o guarda-roupa de algumas sortudas. Decorada com strass e cetim azul, ela estará à venda, em edição limitada com apenas 100 unidades.
A ousadia de Diana, que pode parecer normal para nós em tempos digitais, fugia completamente dos padrões da imagem de uma princesa na época – imagine expor as pernas com um bermuda ciclista na década de 1990 (um escândalo!). Isso porque a sua principal missão parecia sinalizar que os tempos eram outros, que existia voz em uma mulher pertencente à realeza (que não fosse Rainha Elizabeth II) e era possível se mostrar influente de outras formas, que fugissem da tradicional cartilha Real.
Por trás de cada look, tinha uma mensagem de liberdade, um poder que ela queria comunicar, deixando de ser mera acompanhante de seu ex-marido, o atual Rei Charles III. Inclusive, o little black dress (foto acima) usado por ela, após notícias relacionadas à traição de Charles, foi um símbolo de autonomia – e, para alguns, de “vingança”. A verdade é que essa forma como Lady Di se expressava a aproximava da realidade de muitas mulheres, se mostrava acessível e inspiradora. A tirava de papel secundário e passava a ser personagem principal, seja com seu par de jeans ou pronta para a festa. Até hoje ela é – e, arrisco dizer, que jamais será alcançada. E olha que a Rainha Elizabeth II teve tempo para isso.