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Por trás da moda

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Renata Brosina é jornalista, host de podcast e editora de moda com foco em luxo e sustentabilidade. Com 15 anos de carreira e alguns títulos internacionais no currículo, ela é curiosa, gosta de entrevistar e vestir pessoas, e analisar as transformações que vêm acontecendo no mercado.

Inverno 2023: a simplicidade complexa da alta-costura

Em tempos de questionamento sobre a efemeridade da moda, a última semana de alta-costura fincou seu propósito no simples, sem ser simplista

Por Renata Brosina
Atualizado em 8 jul 2023, 09h38 - Publicado em 8 jul 2023, 05h38
Alta-costura Inverno 2024
Desfile da Chanel, às margens do rio Sena, em Paris. (Chanel/Divulgação)
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Parece estranho dizer que a alta-costura está passando por um processo de simplificação, mas é algo que vem acontecendo já há algumas temporadas – e os desfiles outono/inverno 2023 não me deixam mentir. Vale dizer, antes de tudo, que o “simplificar” não significa quebra de tradições ou uma flexibilização do cumprimento dos inúmeros requisitos para fazer parte de um sindicato tão restrito, precioso e, de fato, responsável por fazer o público sonhar. Pelo contrário: algumas das casas de moda, que já renovam votos com a indústria de couture, mostram os caminhos possíveis para modernizar um sistema que, na década de 1970, deu sinais de enfraquecimento e abriu espaço para o surgimento do prêt-à-porter e para a moda italiana. 

Quando falo sobre as mudanças, acredito que há dois principais fatores de maior impacto nesta quebra de “gerações”, como assim posso dizer. O primeiro, sem dúvida, é o quanto há um descolamento do antiquado e inacessível que o segmento se colocou ao longo das décadas. Lembro de quando comecei a trabalhar com pesquisa de moda, em 2007, e o espetáculo a cada temporada era a passarela teatral de John Galliano para a Dior. Já na Chanel, concorrente direta, a ideia era construir um cenário tão megalomaníaco que os suspiros já iniciavam antes mesmo da primeira modelo cruzar a passarela. 

Naquela época, a alta-costura era definida por muitos como “conceitual” e “para poucos”. A ideia de exclusividade não estava apenas relacionada às cifras (que, sim, são uma questão), mas ao lifestyle das mulheres que vestiriam aquelas peças pesadas, com armações e excessos de tecido. Hoje, o ritmo que as grifes seguem é coerente ao estilo de vida da consumidora – e se dentro das cerca de 4000 clientes espalhadas pelo mundo, há uma princesa ou não, nem é um questionamento relevante. A ocasião também não. E alguns diretores criativos estão provocando essa ode à simplicidade, inclusive, comportamental.

Alta-costura Inverno 2024
A coleção de alta-costura inverno 2023 da Chanel mostra a usabilidade das peças no dia a dia da mulher contemporânea. (Chanel/Divulgação)

Se a mulher quiser levar seu cachorro para passear ou ir ao mercado de flores usando seu look couture, Virginie Viard diz “sim”. A atmosfera do dia a dia da sua cliente, que caminha pelo Sena, foi transformada em passarela, repleta de tweeds, bordados, tailleurs e sapatos Mary Jane. Ou seja, o guarda-roupa da garota Chanel, que vive no equilíbrio do simples e elegante. Entretanto, as construções das peças destacavam o savoir-faire excepcional dos ateliês Lesage e Lemarié, que fazem parte do Métiers d’Art, seja na construção das flores, na execução dos bordados ou na criação de cada tweed. A leveza da coleção está também nos materiais, principalmente no chiffon, que embala as transparências da ala final do desfile – incluindo o famoso último look de noiva.

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Na Dior, Maria Grazia Chiuri resgatou o minimalismo da indumentária da Grécia e Roma Antiga, visto em uma série de silhuetas de linhas limpas e deslizantes reproduzidas em vestidos, capas, camisolas, saias e na icônica Bar Jacket. Para dar movimento e contrastes, a estilista trouxe plissados, rendas, bordados e aplicações de pérolas. 

Alta-costura Inverno 2024
Os motivos florais e o vermelho, queridos de Giorgio Armani, na passarela da Armani Privé. (Giorgio Armani/Divulgação)
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A vida noturna e festiva ainda move as coleções – e o simples, sem ser simplista, alcança novos patamares pelo olhar de quem já é conhecido por apostar nisso há décadas. Giorgio Armani, certa vez, comentou que “A alta-costura é o mais alto nível da moda e eu quero continuar assim”. Para o Inverno 2023 da sua Armani Privé, o italiano trouxe todos os seus clássicos – da cartela de cores à alfaiataria, passando pelos looks cobertos por bordados e pelo perfume oriental – para uma coleção que celebra as rosas vermelhas. Prestes a comemorar seu 89º aniversário, o estilista apresentou a sua inspiração distante do óbvio romântico, mas explorou a estrutura da flor em silhuetas, aplicações e geometrias. E, claro, há uma série de visuais monocromáticos no vermelho, uma das suas cores preferidas.

Pierpaolo Piccioli foi direto ao ponto quando mencionou que “a simplicidade é a complexidade resolvida”. Não só nas palavras, mas na coleção em si. A passarela da Valentino reuniu contrastes nas estruturas das peças, algumas limpas, outras com drapeados; nos brilhos, seja nos maxibrincos ou nos bordados; e, ainda, nas camisas e vestidos com mangas com aberturas. Há surpresas também, como a brincadeira que o diretor criativo fez no look usado por Kaia Gerber. À primeira vista, a calça, feita em gazar de seda, remetia ao tradicional jeans. Entretanto, a ideia de explorar as aparências de um dos maiores clássicos do guarda-roupa casual é uma ferramenta interessante para surpreender quem acredita que a couture é só vestido de festa. Já entre os detalhes que Piccioli tanto gosta, plumas e flores decoraram peças com um romantismo contemporâneo – ou seja, nada careta ou ultrapassado. 

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Partindo para o segundo ponto, que é uma questão ainda na alta-costura, é a forma como o público questiona “a falta de novidade”. Cada um dos diretores criativos que mencionei acima é conhecido por uma estética e, exceto Sr. Armani, que é o fundador da sua grife, por resgatar códigos já estabelecidos pela maison. A necessidade do “novo” ou do revolucionário, sinceramente, não deve ser esperado mais. Acredito que é o momento de entendermos e respeitarmos o movimento que a moda, no seu patamar mais alto, decidiu seguir.

Se nos anos 2000, quando a busca incessante pelas tendências era o mote de cada temporada – e matar a coleção anterior fazia parte do ciclo –, assumir que a atemporalidade é parte do processo atual. “Ah, mas a Maria Grazia segue fazendo mais do mesmo?”. Sim, não espere que ela surja, na próxima estação, trazendo uma estética completamente distante do que acredita.

Os princípios de moda e a linha de referência que cada criativo segue não será incoerente só porque o público “exige” algo surpreendente. Cabe a nós aprender a suspirar pelo o que está sendo apresentado, pela essência e mensagem que cada look carrega – e não pelo resgate de tempos de Galliano.

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Alta-costura Inverno 2024
Julien Dossena reinventa os ícones de Jean Paul Gaultier como estilista convidado do Inverno 2023 da alta-costura da marca. (Jean Paul Gaultier/Divulgação)

Existe, porém, uma fórmula para esse “novo” aparecer fresco e distante da temporada anterior. Jean Paul Gaultier é prova disso. Desde que assinou sua última coleção, no Verão 2020, um estilista convidado interpreta seus ícones. Desta vez, Julien Dossena, diretor criativo da Paco Rabanne, foi o responsável por trazer o corset, o sutiã de cone e as referências navy à infusão entre ele próprio e as duas marcas. Gaultier tinha uma forte admiração por Paco e, por isso, pediu a Dossena que trouxesse elementos futuristas para os trinta e um looks. Deu certo.

Se os espectadores estavam no aguardo por algo diferente e coerente, a Jean Paul Gaultier entregou. E no próximo Verão 2024, entregará um novo convidado, com novas ideias e inspirações. O que não deve acontecer é, em 2023, a busca cansativa por espetáculos e revoluções. Até porque, na couture, a discussão é outra. É sobre o respeito pelo trabalho manual, pelos materiais excepcionais e pela estética que se mantém fiel às suas casas. O efêmero, definitivamente, é tão démodé.

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