Como as amizades ajudam a revolucionar o mercado?
O que faz de uma peça de alto luxo uma criação atemporal? Spoiler: ter nascido de forma revolucionária
Jean Cocteau é o personagem desta coluna. No entanto, não é a sua brilhante trajetória como multiartista que irei escrever. Apesar do seu legado na poesia, cinema e arte, venho usar (no bom sentido) do seu bom relacionamento com grandes nomes da moda, joalheria e perfumaria.
Tudo para celebrar ícones que atravessaram gerações, superaram guerras, alcançaram o sinônimo de desejo e atemporalidade. Acredite, você conhece algumas dessas peças, mas não sabe que ele esteve ali envolvido de forma direta ou indireta nas suas criações.
Como a amizade de Jean Cocteau ajudou a revolucionar a moda, beleza e cultura
Louis Cartier, Christian Dior e Coco Chanel eram amigos íntimos de Cocteau, e o acompanhavam do bar ao baile. E é assim, nesses lugares e ocasiões, que as ideias surgem nas mentes criativas e intelectuais. Certa vez, o poeta decidiu usar dois anéis no dedo mínimo — no caso, uma dupla composta por três aros cada, em tons metálicos diferentes – e foi assim que, tanto ele quanto a joia Trinity, ficaram eternizados.
Criado por Louis Cartier, neto do fundador da maison francesa, o anel, com suas linhas puras, destoava do movimento estético da joalheria rebuscada e exagerada dos anos 1920, com pedras preciosas e semi-preciosas e cores vibrantes. Tal característica minimalista, que combinava platina e os tons de ouro rosé e amarelo, era o suficiente para fazer homens e mulheres buscarem na peça um novo sinônimo de elegância e atemporalidade.
Em 2024, a joia celebra seu primeiro centenário com direito a novas versões, entre elas o trio de anéis em superelipses, em materiais novos como a cerâmica, além de uma família composta por brincos, colares e pulseiras.
A importância de Jean Cocteau para a criação do Chanel N°5
Outra celebração de 100 anos que está relacionada ao francês é a do balé Le Train Bleu. A ideia do espetáculo partiu de Cocteau, que convidou Gabrielle Chanel para desenhar os figurinos para os bailarinos. Justo ela que, três anos antes, havia lançado uma verdadeira lenda da perfumaria, o Chanel Nº5.
Inspirado em uma das garrafas de uísque de Boy Capel, grande amor da vida da estilista, que faleceu em um acidente de carro, o vidro tinha um design simples — e, de certa forma, considerado masculinizado para os anos 1921, quando os perfumes femininos eram ultra decorados.
Já o conteúdo, que surgiu a partir da ideia de ser “um perfume de mulher com cheiro de mulher”, de acordo com a própria Chanel, também era disruptivo — ainda que fosse um bouquet floral, o perfumista Ernest Beaux acrescentou aldeídos inéditos na sua composição. Com o passar do tempo, o Nº5 foi reinterpretado e ganhou novas opções, que vão do Eau de Parfum aos produtos para banho e corpo, como sabonetes, loções e brumas.
Mesmo que não saibamos a sua opinião a respeito do Chanel Nº5, o poeta teve algo a dizer sobre a uma outra apresentação, que ocorreu às 10h30 do dia 12 de fevereiro de 1947 em um dos prédios da Avenue Montaigne. Segundo ele, a coleção New Look, de Christian Dior, merecia a importância da bomba atômica. De fato, o que o poeta vivenciou — e respirou — naquele salão foi uma experiência não apenas de moda.
A ligação de Jean Cocteau com a Dior
Para o seu primeiro desfile, Dior também apresentou o Miss Dior, sua estreia na perfumaria, cujo nome dado era uma homenagem a sua irmã mais nova, Catherine Dior. Na ocasião, assim que os convidados atravessavam a porta de entrada, em um dia frio durante o inverno parisiense, uma grande quantidade de flores os recepcionaram, assim como a fragrância que, aos litros, era borrifada nos ambientes.
Há quase oito décadas, o Miss Dior é considerado um ícone absoluto e, este ano, recebeu uma atualização que reinventa a visão de feminilidade para a proposta de Eau de Parfum. Uma espécie de irmão mais novo, mas que ganhou a mesma relevância de Monsieur Dior, foi o Rouge Dior. Lançado em 1953, o batom foi o primeiro item de maquiagem da maison e, de acordo com o costureiro, transmitia o desejo de também vestir os sorrisos femininos.
A relação entre Jean Cocteau e a Gucci
Por último, mas não menos importante, Jean Cocteau costumava usar sapatos de origem italiana. Apesar de não sabermos ao exato se o multiartista era próximo de Guccio Gucci, criador da grife italiana, os modelos desenvolvidos no ateliê em Florença eram os preferidos do francês. Coincidência?
A marca foi fundada em 1921, mesmo ano em que Gabrielle Chanel apresentou o Nº5, e um dos seus maiores ícones, a Gucci Bamboo Bag, foi concebida em tempos de New Look. Na época, a bolsa, que foi pensada durante a crise econômica causada pela Segunda Guerra Mundial, foi construída com alça de bambu japonês — uma experimentação ousada em tempos de escassez de matéria-prima.
Por conta desse teste bem sucedido, a it-bag da label italiana é um clássico, que já foi revisitada por todos os estilistas que passaram pela Gucci — e permanece sendo produzida de maneira completamente artesanal em seu ateliê ainda hoje.
Assim como as criações lendárias que Jean Cocteau ajudou a colocar no mundo, o próprio artista também é inesquecível. Até hoje, afinal, estamos aqui falando dele. Não à toa, no epitáfio de seu túmulo consta a frase “Fico com vocês”. Pois é verdade: ficamos com ele e seus ícones para sempre.
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