Busco refletir, a cada 08 de março em minha vida, sobre como estive nos 08 de março anteriores. Quais foram as minhas motivações naquelas datas, as paixões que me moveram em tantas lutas, mas também lembrar das dores existenciais que tornaram muitos 08 de março dias de luto.
Minha história de crescimento pessoal se mistura com as centenas de atendimentos de vítimas de violência doméstica que fiz na última década. Todo tipo de história, todo tipo de mulher, mas em todos os casos, similaridades.
Digo que minha história se mistura com a de tantas mulheres porque a cada escuta, a cada atendimento feito, as histórias de violência doméstica de todas elas se mostravam entrelaçadas, inclusive com a minha.
Ciclos de traumas ancestrais, filhas de mães que foram abusadas, cresceram e foram também violentadas em casa, na frente de seus filhos.
Se hoje temos espaço para debater a violência de gênero, devemos essa liberdade às lutas feministas. Porém, vale frisar que alguns valores andam distantes dos nossos debates.
Se pensarmos sob a perspectiva da tolerância, essa palavra que tem ressoado forte em mim nos últimos dias, perceberemos que falta tolerância inclusive entre nós, mulheres.
Ainda operamos em uma lógica patriarcal de controle, esperando muito de outras mulheres, como se todas estivessem no mesmo nível de consciência e evolução.
O cuidado para não repetir padrões violentos entre nós deve ser redobrado. Estamos todas vivendo processos pessoais e coletivos muito difíceis, só alcançaremos um debate produtivo com tolerância e cuidado para não transformarmos a opressão que recai sobre nós há milênios, em mais violência.
Por isso, lembremos com seriedade das lutas travadas para garantir a nossa liberdade física, emocional, mental e espiritual, mas também busquemos um pouco de afago, de cuidado, respeito, tolerância e alegrias.
Que, para além do dia 08, possamos pensar sobre as nossas liberdades e exercê-las, pois podemos.