Conheci meu marido pedalando. Foi numa trilha nova para mim, velha conhecida para ele. Um lugar lindo, mas bem difícil para uma ciclista mais acostumada com os parques de São Paulo do que com as montanhas. O grupo era grande e experiente em mountain bike. Já eu estava bem desconfortável diante de tanta pedra solta em descidas rápidas. Foi quando ouvi:
“Não olhe para as pedras. Fixe o olhar onde você quer passar, e a bike passará exatamente por ali”, disse o Paulo.
Agradeci a dica. E ela se provou muito útil. Focar na solução, não no problema. Funciona mesmo. O ciclista simpático virou namorado, depois marido e, passados cinco anos, seguimos pedalando juntos.
Ontem caí de bobeira, numa subida fácil. Escorreguei nas pedras soltas e…ploft. Nada grave.
Com alguns arranhões nos cotovelos, fomos adiante. Gosto de aproveitar a experiência dele para melhorar minhas habilidades no pedal, e portanto perguntei:
“O que fiz de errado?”
“Primeiro distração: perdeste o foco no que vinha à frente. Depois um movimento brusco na pedalada. Perdeu a constância na subida, vai pro chão mesmo.”
Ele explicou que eu estava subindo errado, aos trancos. E as subidas precisam de constância, “manter o embalo”. Deixei a bicicleta perder velocidade e quando precisei passar sobre as pedras, ela perdeu velocidade. Daí pedalei forte demais, na tentativa de retomar a velocidade e o equilíbrio. Movimento brusco, chão.
Logo a discussão sobre o valor da constância ultrapassou o tema ciclismo. A gente se deu conta que boa parte dos problemas nos negócios, e em todos os campos da vida, têm essa origem: falta de atenção com o que vem à frente, desleixo, e para tentar depois compensar, movimentos bruscos, desespero.
Pára pra pensar na sua vida. Observe como a conclusão de Newton, quando formulou a Lei da Inércia, faz sentido:
“Uma vez iniciado o movimento, a tendência do corpo é permanecer em movimento retilíneo e uniforme”.
Assim , o que faz a bike tombar na subida, se repete nas relações humanas. Precisamos de constância. Quando a gente tem um impasse qualquer e resolve girar 180 graus de uma vez… O que acontece? Normalmente, o outro lado se retrai ainda mais.
Vale para discussões de contratos complexos, bem como para decisão sobre o filme a assistir com a família. Movimentos bruscos demais tendem a render arranhões na melhor das hipóteses. Rompimentos na pior delas.
Mais uma vez, os exemplos da natureza ajudam a entender. Uma chuva média e constante é melhor para a plantação que um pé d’água. Exercícios moderados, com frequência, rendem mais resultados ao corpo que se matar na academia uma vez ou outra. Minha meta com esta coluna é estimular você a se observar e a aprender a ser constante na busca pelos seus objetivos.
Lições das trilhas da vida:
1 – Não olhe para a pedra (o obstáculo), olhe para onde quer passar (o seu objetivo de vida);
2- Jamais desanime, nunca perca o teu ímpeto, seja constante e até as leis da física irão te ajudar.
Perceber o ímpeto, antes de executar um movimento brusco, pode fazer a diferença entre realização e arrependimento.