É possível ser culta e gostosa? Voltemos aos textos humorísticos neste site. Pois é, humorísticos, mas nem por isso deixam de ser verdadeiros. Essa questão já apareceu com várias mulheres poderosas: gatas, gostosas e inteligentes. Opa, sou feminista. Inteligentes, gatas e gostosas. Acho que minha carteirinha ainda está dentro da validade.
Já vi o tempo inocentar lindamente, como sempre. O tempo é muito sábio. Luana Piovani. Luana, que já virou meme: “Não dá tempo de postar uma foto gostosa de biquíni na praia! É muita coisa para fazer: tem que falar de política, salvar a Amazônia, é toda hora o 342, atender a Paula Lavigne pedindo para assinar alguma pauta urgente”.
Ah, Luana, como eu te entendo hoje em dia.
Sou feminista, mas já comecei a fazer botox. Sou feminista, e gosto de colocar uma roupa sexy de vez em quando, sair daquele estilinho de “sou cult, gosto de cinema sul-coreano e visto tons terrosos, calças largas e terninhos sem um bom caimento”. Eu gosto de ler livros difíceis, vou em brechó (alguma esperança de salvar o mundo e, ao mesmo tempo, ter roupa diferentona), gosto de ter discussões filosóficas e políticas, e falar sobre a economia de países estrangeiros que, muitas vezes, nem conheci. Só de falar, já me sinto inteligente.
É difícil agradar todo mundo. Tenho certeza que metade das pessoas que estão lendo vão me xingar, enquanto a outra metade também vai: ou por eu ser feminista, ou por não ser o suficiente.
Confesso que a idade está chegando, batendo na porta, e estou começando a considerar entrar em pânico. Eu, que sempre tive 101% de certeza de não querer ser mãe, agora, chegando perto dos 40, me pergunto: será mesmo que eu não quero ser mãe? Porque o tic-tac do relógio está batendo, e é nessa hora que você se desespera. Se eu tinha certeza até os 36 anos que não queria ser mãe, agora só me restam mais 4 anos para decidir. E se eu mudar de ideia depois? Vou me arrepender de ter passado os últimos anos afirmando que não queria?
Será que vou conseguir segurar essa marimba? Não sei. Acho lindo o cabelo grisalho, Miranda Priestly em “O Diabo Veste Prada”. Ela é maravilhosa, chiquérrima. Mas confesso: entrei em pânico ao ver meus primeiros fios brancos. E pintei o cabelo de ruivo. Sim, daquele ditado: “A mulher quando enlouquece, ou enlouquece ou vira ruiva.” No meu caso, enlouqueci e fiquei ruiva ao mesmo tempo.
Confesso que já me olhei no espelho e pensei: “Nossa, será que essa roupa está apropriada para a minha idade?”, e me reprimi automaticamente. Deteeeeeeesto coletor menstrual. não me fale em menstruação e plantar lua.
E sei que essas falas parecem anti-feministas, mas, ao mesmo tempo, são tão humanas. Crescemos assim, e agora estamos nos questionando. E acho que ser feminista, na real, para mim, é poder ser tudo. E poder ser contraditória também.
Você vai me ver desarrumada no Instagram, mas de filtro. Quer me ver de olheiras e sem glow? Durma comigo primeiro.
Tem coisa mais gostosa do que ser vulnerável? Porque, ao expor a vulnerabilidade, ela pode deixar de ser uma. Talvez, ao contar a sua vulnerabilidade, você a transforme em “invulnerabilidade”. Talvez eu me arrependa deste texto no minuto que colocar o último ponto final. Mas ele é verdadeiro. Ele fala de mim. E pode falar de muitas “mins” por aí que eu não conheço, mas que me encontram na rua e dizem: “Aquele texto sou eu”.
E é para você que escrevo. Para quem é feminista, luta pelos direitos das mulheres, mas que, de vez em quando, tem um surto com alguma ideia que parece anti-feminista. E aí vem a voz na cabeça: “Mas você não é feminista?”. Nós não somos uma, nem duas. Somos muitas dentro de uma só. Precisamos nos acolher mais. Ser mais generosas com nossas próprias contradições.
Talvez esse seja o caminho. Desculpa, feministas. Desculpa, não-feministas. Por favor, não me xinguem muito nos comentários. Mas, se quiserem, podem me mandar um biscoito. depois de xingar, mas só se quiserem.
Fim de texto.
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