Tempus horribilis. Eu no meu latim inventado, sofro. Todo dia morre alguém conhecido, alguém desconhecido. Pessoas adoecem. Sabe o marido da prima da colega da ginástica? Morreu. E o feirante que te vende à banana mais doce do Rio? Morreu. Paulo Gustavo doente? Melhorou? Não foi intubado. E Orlando Moraes. Sim ele respira. Que glória, Gloria.
Ontem foi o Contardo Calligaris. Muso da minha mente e eu que achava que esbarraria nele numa LIVE recente ou mesmo, num átimo de sorte, aqui mesmo no Rio em alguma rua de Ipanema. Abro os jornais com medo do obituário. Vejo uma foto no instagram e acho que a pessoa tá morta. Eu tusso a noite e já acho que pela manhã estarei no respirador. A filha dá um espirro na sala e saio borrifando álcool como se fosse aromatizador de ambiente.
Estamos todos doidos. Zumbis errantes esperando o efeito da vacina. Aliás, esperando vacina se você tem menos de 70 anos. E se os sintomas só aparecem 15 dias depois do contágio é bom nem contar vantagem da picada. Ela pode não te salvar. Amargos estamos. Eu nem faço mais planos pro novo normal. Viajar virou pecado mortal. Só de pensar eu já preciso me ajoelhar no milho e gritar Saravá porque é ofensa mundial.
Vou pensar em que? Plástica no pescoço? Vibrador novo? Passar o Natal longe? Não faço mais planos. Não escrevo nem mais na agenda (sim, a minha é de papel) e acordo e durmo neste solavanco chamado Brasil. Tragam-me os corpos. Velarei cada um com minhas lágrimas afinal estou virando expert no assunto. Valha-me Deus.