Tela quente
Se não olharmos para dentro, se não percebermos que precisamos repor, dosar, lidar, duelar, vencer essa fase diferente e tão árida, vai ser dura a travessia
Uma lágrima caiu enquanto eu estava sentada no vagão do metrô. Foi piorando. Em segundos estava aos prantos. O tema é recorrente: a pressão cotidiana no combo cansaço, labuta e sobrevivência. Na maturidade piora. Temos aquela sensação que não fizemos o dever de casa corretamente.
Até no INSS estou tendo dificuldades para me aposentar. No quesito conjunto da obra, vejo amigas que trabalharam anos em um mesmo emprego e hoje estão de folga, na praia, recebendo o maior teto da Previdência e desfrutando o gozo de uma vida de ralação.
Mas e eu? Ralei muito. Comecei cedo, empregada com carteira assinada. Depois tive minha empresa e todas as dores e sabores de ser empresária nesta selva. Onde errei? Acumulei funções, me virei nos 30, fiz de um tudo e, aos 52 anos, fui demitida. Já escrevi aqui uma coluna inteira dedicada a isso. Mas hoje o assunto é diferente, mais hormonal. Acho que a menopausa destrói qualquer traço de entusiasmo diante dos obstáculos da vida.
Não sou uma lebre faceira da alegria, mas tenho evitado meu papel de Diva-depressão. O fato é que a consciência do finito traz uma urgência. Adicione a isso uma explosão desordenada da falta dos hormônios.
Em um jantar, essa semana, entre quatro amigas de faculdade, todas maduras, a mais falante, a cineasta Angela Zoé confirmou que fará um documentário sobre o climatério. Ela está começando a passar pela fase mais quente da vida (eu já estou há mais de 6 anos) e está impressionada com seus efeitos. Não somente os físicos, mas sobretudo os emocionais. É ladeira abaixo.
Se não olharmos para dentro, se não percebermos que precisamos repor, dosar, lidar, duelar, vencer essa fase diferente e tão árida e vulcânica da vida, vai ser dura a travessia.
Dei a maior força para ela filmar esse combate. Vai ganhar prêmio em festival de tão pouco debatido em rede nacional. Vamos falar mais sobre isso?
Em menos de 15 minutos cheguei à minha estação. Enxuguei as lágrimas, fiz a egípcia e segui em frente como se tivesse todo o tempo do mundo. Tolinha.