É legal ser polida. Tenho cara de camafeu e sempre prezei pela cordialidade, mas virei à mesa. E não foi com ninguém. Acionei a tecla sap da libertação das minhas formalidades. Tenho achado chatíssimo essa etiqueta da pandemia.
Já está na hora de darmos uma surtada afinal estamos chegando a 365 dias correndo do vírus, nos lambuzando de álcool gel e nos benzendo em porta de hospital. Eu dei meu grito primal. Não quero mais sorrir para agradar. Não quero mais fakear para existir.
Quero fazer brotar o meu lado mais hediondo. E não é revanche, neura ou raiva. É um renascer das cinzas dos amigos mortos, das valas abertas, das cerimônias de adeus via zoom, ultra gélidas. Tôooooo cansada. Cansada destra ramerame que não ata nem desata e vem a infectologista na Globonews e diz que máscaras, distanciamento e contágio vão durar até 2022.
Faz como? Como seguimos? Já estou entrando no modo depressão permanente e acho que pelo meu grau de agressividade, só pioro. Faz como? Repeteco das mesmas perguntas… Sorry pelo texto, mas ando cabisbaixa. Tá foda competir com a realidade.
A mulher esfaqueada e morta por aí puxa um rosário de tragédias como as balas perdidas do meu Rio a água suja da Cedae, o superfaturamento na saúde e a Bibi na telinha reprisando o crime-ostentação em rede nacional. Penso em dar um tapa, mas estarei alimentando o tráfico? Correr pra liberar endorfina só até às 18h, depois é assalto certo na Lagoa ou Ipanema.
Fazer sexo selvagem? Não me depilei e o marido tem trabalhado à exaustão. Stalkear as redes sociais? Dá uma depressão fudida não estar zen ou com a barriga tanquinho. Melhor me voluntariar para ajudar as comunidades ultra carentes pois acabo já já com esse meu draminha pessoal. Ou quem sabe não entro numa sonoterapia e acordo magra, loura, jovem, rica e com a noticia da cura do Covid.
Não Kika. Pensando bem, melhor viver acordada e lutar por um mundo mais justo, menos violento, plural, igualitário e vacinado. Melhorei!