Temos visto muitas tragédias. Tempo real. Sentimentos esgarçados por uma dor coletiva. Quando voltamos nosso olhar para o individual, para as nossas chagas, vejo que na maturidade existem dois tipos de pessoas.
“Estou com medo, e agora?” | CLAUDIA (abril.com.br)
As que lidam com as suas cicatrizes quase como quem agoniza via alto falante e outras, que não se demoram em viver algo tão ruim. Acho que estou mirando a segunda postura.
Não quero mais sofrer dias, meses, anos. Já fui carpideira de mim mesma e sempre que eu me lembro das lágrimas de crocodilo que versei pelas mais diversas situações eu divago: valeu a pena? Fez alguma diferença? O tal aprendizado pela dor que dizem ser mais poderoso e eficiente não me pega mais.
Esse negócio que só quando sangramos é que mentalizamos aquela experiência, já não representa mais o meu modus operandi. Sempre fui feita de dores. Criança quieta, mãe doente, pai zeloso demais, tudo podia dar merda a qualquer momento, misto de susto, pânico e ouso dizer, um chamamento do ruim. Como um ímã para atrair roubadas.
Essa tal energia, aquela coisa de ver o copo cheio, começa a fazer sentido agora, tardiamente. Fui de luas. Agora quero sol. Engraçado que vejo alguns pares maduros, pessoas 60+ superdepressivas e morro abaixo. São, quem sabe, indivíduos que tiveram uma vida ultraplena de grana, beleza, fartura e – que o destino – na idade mais avançada, não é mais a mesmo.
Não é fácil, eu sei. Mas também não acho que seja um passaporte para a depressão. Até porque se você não é mais a última Coca-Cola do deserto e te faltam atributos para ornar nesse mundo de aparências, resta apenas fortalecer o self.
Eu voltei para a análise, não parei minha dança e estou organizando a minha vida financeira. Pode parecer maluquice, mas hoje estou mais consciente dos meus limites e aproveito cada centavo dessa jornada, ainda que limitada.
Não vai dar para morar em Paris, nem me casar com o cara cool-gato-tesudo que paquerava, muito menos fazer fortuna sendo relações públicas. Então, uso semanalmente o meu vibrador, ousei virar escritora e engatar uma nova carreira e, do alto dos meus 82 quilos, rebolo, uso meus biquínis e rio a valer.
Acho que o valor do sofrimento não tem a mesma moeda de outrora. Posso estar mais pobre de lágrimas, porém abundo em sorrisos.
Assine a newsletter de CLAUDIA
Receba seleções especiais de receitas, além das melhores dicas de amor & sexo. E o melhor: sem pagar nada. Inscreva-se abaixo para receber as nossas newsletters:
Acompanhe o nosso Whatsapp
Quer receber as últimas notícias, receitas e matérias incríveis de CLAUDIA direto no seu celular? É só se inscrever aqui, no nosso canal no WhatsApp.
Acesse as notícias através de nosso app
Com o aplicativo de CLAUDIA, disponível para iOS e Android, você confere as edições impressas na íntegra, e ainda ganha acesso ilimitado ao conteúdo dos apps de todos os títulos Abril, como Veja, Superinteressante e Capricho.