O tempo não cura nada
Entrevistei a cronista na semana passada. Ela brilha falando sobre morte, falta de grana, sem perder o sabor da vida
“O tempo só tira o incurável do centro das atenções.” Essa intensa frase, atribuída a escritora Martha Medeiros é, na verdade, um comentário de um dos seus leitores em uma rede social. Quem me afirmou isso foi a própria cronista sulista, entrevistada por mim, semana passada, em Brasília, em um dos meus talk shows presenciais.
Martha é tudo. Desconcertantemente normal, metida num macacão preto, quase sem maquiagem, sapato baixo, bolsa tiracolo, ela brilha. Brilha porque sua mente reluz. Porque tem uma lucidez tão natural, senso de finito, pés nos chão, pernas fincadas na terra.
Leonina, com ascendente em capricórnio, ela é uma metamorfose ambulante e, antes de duelar com o mundo, luta consigo em uma bi-polaridade de quereres e por isso é tão sã. Convive com todos os medos, fantasmas, caraminholas que habitam nossas mentes. Nos lê em braile, aramaico, sânscrito, esperanto – enquanto nós, em português mesmo, não conseguimos verbalizar muito.
Ela brilha conversando sobre morte, amores perdidos, falta de grana, solidão, lava-jato e tantas mazelas humanas. Mas sabe o que eu mais gosto nela? O ar sapeca, travessa, de procurar novas emoções, de pular sem rede, de buscar o frisson do amor, do calor, do sabor em sua vida.
E nessa sua busca pessoal, ela nos incentiva a pular a faixa amarela, a cortar a cortina de fogo, a ingerir mais e mais comprimidos de vida. Vai queimar, vai arder, vai doer? É claro que vai, mas você vai trocar o “à-flor-da-pele” pelo morno, seguro, conhecido? Nananinanão. Então Martha, me pega pela mão e me leva com você pela montanha-russa do viver. Prometo não enjoar!