O meio do fim
É de matar essa fase da tomada de consciência que limita nossas asas, mas é muito melhor do que morrer de véspera
Ando melancólica. Ou será realista? O fato é que começo a contar de trás pra frente. Tipo brincar de Deus. Quando acaba? Será que vai doer? Será que fecho o paletó, ou melhor, o vestido, rapidinho? Vou dormir e não acordarei? Tomara.
Mas é bem estranho essa régua do finito. Fico eu olhando meus pares e percebendo uma certa decadência. Um já não tem todos os dentes; outra puxa da perna; a amiga querida infartou e ao invés de envergarem biquínis, andam de bengalas. Já? Sim… estou virando os 60 anos e os achaques começam.
Percebi que estou muito mais gorda. Se já era difícil perder os tais cinco quilos, quando eu penso nos quinze necessários, brocho. Então o que eu tenho feito? Faço a egípcia enquanto tranco o carro. Quer dizer: dou de ombros, mas trato de me proteger. Comecei pelo oculista. Já já vou ao cardiologista, endocrinologista, ginecologista e um monte de “ista”. É de matar essa fase da tomada de consciência que limita nossas asas. Mas é muito melhor do que morrer de véspera. E aí, já contratou seu plano funeral?