Não. Não me apedrejem. Não cresci querendo ficar grávida. Lembro de bonecas, mas desde cedo fui da rua. Demorei mais de 9 anos para engravidar mesmo sendo casada há quase uma década. A desculpa sempre foi a grana, o tal amor na cabana que graças a Deus nunca colou comigo. Quando estabilizei um pouco no trabalho, plim, sinal verde.
De tanto enterrar meus parentes, encarei dar a vida, mas não amei ficar grávida. Pelo contrário. Achei aquela metamorfose ambulante, aquela barriga fermentada deveras estranha. Quando Madonna disse que era uma vingança de Deus contra as mulheres, entendi. E em tempos de empoderamento (ai palavra chata), vejo que a patrulha das outras mulheres com suas semelhantes é imensa.
Na maturidade, já quarentonas, a verve é em alto falante: não vai mesmo engravidar? Congelou seus óvulos? Vai adotar? Por que cargas d’água a mulher só existe plenamente se tiver filhos? Precisa? Como frequento asilos e lido com o despedir-se, reparo que a frase “quem vai cuidar de mim na velhice” volta vez e sempre. Filhos são os novos enfermeiros? Passar pela terra sem procriar é maldição?
Acabei tendo duas filhas com diferença de idades de menos de dois anos. Minha padaria particular deu lindas fornadas, mas confesso que continuo a detestar a prática de endeusamento da maternidade e da amamentação por parte da mulherada. Quer dar o peito até a criança fazer 3 anos, ótimo. Siga sem cagar regras. Quer comentar de golfadas, cores de coco e xixi, sobre papinhas, ok, mas não seja bélica com quem acha tudo isso chato.
Também me surpreendi, ainda grávida, pela mitificação dos 9 meses. Não teve uma criatura sequer para me dizer que na minha imensa barriga ia brotar uma linha preta, que minha auréola do peito ia ficar escura, que minha vagina ia virar couve flor, além das azias, melancolia, pânico, peidos e aquela sensação de angústia com expectativa. Vão dizer: desnaturada. Nada disso. Só jogo uma luz sobre essa perpetuação do mito do feminino, da mulher que precisa parir para existir. Porque se não der à luz, sua vida será de trevas?
Mudamos e avançamos em tantos campos, mas o olhar do outro, para uma mulher que assume não querer procriar é pesado. E a ira maior vem de outras mulheres que julgam sem dó nem piedade quem, de fato, não quer colocar alguém no mundo. Como se a decisão fosse imoral, diabólica, típica de alguém danificada ou defeituosa. Mas amiga leitora, filho não é troféu. A todas que decidiram não os ter – por opção genuína e pensada – há luz no fim do túnel afinal você é o maior presente de sua vida. Dê seu grito e exista.
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