Está de cara com essa nova série da Netflix né? Eu chorei, fiquei com taquicardia, emburaquei no vinho. Não, eu não tenho vinte e poucos anos nem uma filha pequena para sustentar. Pelo contrário, estou chegando aos sessenta, com rebentas adultas. Desde domingo, dia em que maratonei os capítulos, eu estou sentindo na pele os muitos assédios que vivi, através da minissérie estrelada pelas atrizes – mãe e filha na vida real – Andie MacDowell e Margareth Qualley.
Doeu. Aliás, dói. Os dez blocos ficam martelando na minha cabeça sem que eu possa pausar os flashes que me vem à mente. Pobreza, alcoolismo, maternidade, isso é bolinho diante do peso da maldade dos pais da protagonista. Você vai me dizer que seus pais nunca te fizeram sofrer? Pois eu conheço isso. A maldade familiar, os gatilhos humanos que se repetem em cascata. Euzinha mesma fiz uma viagem uterina, sentada em meu sofá, e me peguei ouvindo a minha mãe destilar barbaridades para mim. Tipo a mão que balança o berço, versão carioca. E sobrevivi. Cá estou.
Mas as cicatrizes também estão por toda a parte. E essa série sangrou-as novamente. Estou em carne viva. E celebro esse posto que me tirou da inércia de pensar que o passado passou. Não! O passado está tatuado em minha pele. Então se você é mulher, se você é jovem, se você tem mais de cinquenta anos, se você está grávida, se você não consegue pagar seus boletos, se o seu marido te inferniza, se há rancor rondando a sua vida, assista. Vai funcionar como um veneno anti monotonia. Prepare-se e depois não diz que eu não avisei. Mas será um daqueles tombos que fazem você levantar tonta, mas ainda assim, plena.