Tenho pensado incessantemente nas pessoas 50+, em sua maioria mulheres, que ainda cuidam de seus filhos jovens-adultos e de seus pais demenciados. Que barra. Tenho vivido essa gangorra emocional sem saber muito se ajo com uma frieza monstra ou se dou ouvidos aos meus sentimentos.
Minha mãe não quer ceder aos trâmites óbvios da necessidade de fazermos uma revolução neste cotidiano banal e seguimos catando os cacos da destruição atual. Envelhecer dói. Assistir de camarote a essa quebradeira financeira é para os fortes. Minha mãe não se preparou para a velhice e eu cheguei muito tarde para organizar a zona monetária. Devia ter percebido que ia dar merda quando via a geladeira cheia de frutas e legumes que estragavam, o casaco de visom que deve ter custado os olhos da cara abafado no armário, as contas que chegavam em cascata – muitas delas de compras de joias pela TV.
Conhecem Medalhão Persa? Um programa que passa de madrugada e leva os mais velhos – em sua maioria solitários e iniciando uma senilidade – a comprarem, em várias parcelas, anéis, brincos, gargantilhas e pulseiras que jamais usarão. E os empréstimos bancários? E os consignados? Se forem aposentados com salário fixo, piorou, pois os gerentes de banco tem acesso à essas contas e ficam empurrando produtos inúteis. A maioria dos velhos cai.
E entre boletos e dificuldades eu me deparo com um cenário melancólico. Minha mãe perdendo a si mesma e eu tentando me encontrar neste caos. Como eu me curo? Tento olhar para as novas gerações – minhas filhas – e eu mesma, fazer um retrofit em mim. Menos consumo, mais consciência dos meu direitos como cidadã e um advogado para chamar de meu. E já decidi: no meu aniversário de 60 anos vou fazer um seguro funeral. Minha partida já estará garantida.