Eu fiz um aborto. Ilegal. Muitas mulheres fizeram. A maioria, claro, não fala. Eu tinha 18 anos e não queria aquela gravidez. Erro meu não ter evitado corretamente, mas não posso morar em um país que me obrigue a fazer com o meu corpo o que eu rejeito.
A PEC 181, que restringe a realização de um aborto e que o criminaliza mesmo em casos de estupro é daqueles absurdos que só uma sociedade capenga e retrograda como a nossa permite. Mas ouço poucas vozes. Acho a mulherada calada. Cheia de pudor em conversar, comentar, combater tamanha atrocidade moral contra nosso corpo. Os castelos estão desmoronando e a hora é essa.
Hoje, na maturidade, com duas filhas saindo da adolescência, sou ainda mais a favor do aborto. E que fique claro: EM TODOS OS CASOS. Toda mulher que já tenha se submetido à tamanha dor sabe do que eu estou falando. Ninguém acorda e diz com um sorriso no rosto: ai que bom, vou abortar. É doído, é caro, é duvidoso, muitas vezes em condições absurdas e que levam ao óbito também da mulher.
Quando fui mãe, do alto dos meus 33 anos, praticamente 20 anos depois do meu procedimento, pensei: sou ainda mais a favor do aborto. Ter um filho é tarefa das mais importantes na vida de uma mulher. Só querendo e podendo. Não é brincar de casinha, não é amor na cabana, não é ai-que-lindo-bebê… É pra vida inteira.
Então, que se aumentem as políticas contraceptivas, a educação de nossas meninas e meninos (sim, vamos envolver os rapazes na discussão e não reduzirmos seu papel apenas ao furor dos hormônios) e discutir o assunto nas escolas, nas redes sociais, na sala de jantar e na cama. E por favor, não coloque Deus no meio disso. Ele anda ocupado demais lutando contra a hipocrisia de alguns de seus fieis.