Como diz a Simone de Beauvoir, a gente não nasce mulher, a gente torna-se. O tempo então é um aliado poderoso. A pelanca brota, mas a razão imprime certezas. Será? Aqui as rugas abundam e o juízo ainda vaga cambaleante, mas, sim, sou uma mulher madura infinitamente mais feliz do que fui aos 20 anos.
Nunca acreditei em promessas fáceis. Então, ter passado por assédios, brutalidades verbais e sexuais, misoginia e toda a sorte de blasfêmias, gritos e sussurros, foi preparação do couro para o pandeiro. E chego aos 60 plena. Claro que só penso no bisturi que vai esticar meu pescoço, na aposentadoria que vai me livrar do BRT e dos muitos publis que eu quero fazer para engordar o meu cofrinho, mas o meu melhor presente neste dia é uma paz interior.
Sabemos que o Brasil é mister em violência grossa contra nós. Além dos ataques conhecidos, ainda somos bombardeados pela tecnologia que nos persegue como presas fáceis. E tem cada novidade macabra….. Mas, hoje, quero comemorar. Estamos nós, as balzacas grisalhas, aquelas que já passaram dos 50, cada vez mais atrevidas. Temos voz, temos atitude, temos peito. Estamos fazendo a revolução do sutiã, versão 6.0.
Aliás, nem usamos mais sutiãs. Somos as novas hipongas, que bebemos na escola da eterna Rita Lee, com seus comentários lisérgicos porém assertivos sobre envelhecer. Homens, dinheiro, luxo… queremos. Mas sobretudo queremos a nós mesmas. Ficar de pijama sozinha assistindo Netflix. Recusar sair por sair. Entrar no Tinder e acasalar com vários. Morar na fazenda e nunca mais pegar um carro. Fazer a egípcia e dar de ombros para as regras. Somos as verdadeiras fênix. Já fomos um tudo e agora queremos ser apenas nós mesmas. Então mulher madura. Meu beijo hoje é pra você. Comemoremos com muito suco verde, champagne ou sakepirinha de caju. Campari, nem pensar.