CPI das emoções
Não tá fácil! A colunista Kika Gama Lobo reflete sobre o caos de sobreviver com luto coletivo, dilemas familiares e sociais e crise política
Tá puxado. O Paulo morreu e o Renan preside a banca do drama das vacinas. Estou dentro do metrô e no vagão, um homem expõe seu filho que tem uma doença grave. Ao pegar o BRT esbarro em mais pobreza. Aqui na Cidade Maravilhosa quem tem uma vida real não escapa de muitas mazelas. Eu não ando de carro blindado. Eu não tenho seguranças nem motorista. Eu conto dinheiro suado. Eu ralo todos os dias e no meio desta necessária sobrevivência tento administrar as minhas emoções. Mas tá puxado. Como viver neste Brasil negacionista? E quando alguns amigos seus continuam com aquele discurso míope e roto sobre a atual.
Política nacional? Como seguir em frente quando o marido mudou radicalmente com você? Ficou frio e distante tentando ele também elaborar as suas questões. E quando as filhas também estão estranhas? Mais verborrágicas, zero paciência e comendo besteiras a cada refeição? E olha que já estamos há mais de 1 ano neste novo normal, então porque persistimos anormais? Eu não estou entendendo nada. Como vai ser o futuro? Como será o Brasil daqui pra frente? Só quero dar uma de louca e fazer a egípcia. Não quero ter razão. Não quero dar respostas inteligentes. Não quero nada além de conseguir administrar as minhas emoções. Do jeito que o barco navega, a situação fica mais tempestuosa. E para piorar o cachorro vira-lata que mora conosco há 5 anos e o trouxemos de Minas com alguns dias de vida, mordeu meu pé. Até o bombeiro eu chamei de tanto medo que estava de zanzar pela casa com o bicho possuído. E me digam: não está puxado?