Um estupro lento, não acham? Todo mundo vai lá e mete a mão. Violentam, sangram, decepam… Gozam na nossa cara com escárnio. Ela, somos nós. Todos nós. Homens, mulheres, crianças, velhos, fetos.
Já não dá mais para ocultar a urgência da preservação. Lá atrás a floresta parecia coisa de índio, destino exótico, interesse de gringo malucão. Nada disso, aquilo lá é nosso tesouro maior. E negligenciamos a nossa paternidade e maternidade por décadas. Mas bateu um fio, aquela sensação de pertencimento e clamor.
Não sei se o céu negro em Sampa ajudou, mas ficamos preocupados. Eu fiquei. Tantas tragédias anunciadas. Tanta cagada que o homem vem fazendo mas que achávamos que não chegaria ao caos do fim do mundo. É furacão, tufão, vulcão. Muitos ais, uis ainda se ouvirão e eu não quero ser engolido pela mão do Diabo que alimentamos feito João e Maria.
Aqui em casa ando meio Chico Mendes. Converso com plantinhas, apago luzes, repito roupa, economizo água, reciclo comida. Ainda não adubo lixo nem aboli o plástico mas estou bem mais green. Não quero amarelar quando o fim do mundo der as caras e souber que tem muito de mim nesta tragédia mundial.
55 anos de vida e fiz tão pouco pelo planeta. Me sinto péssima, burra e míope. Como pude ser tão consumista, esbanjadora e louca? Qual parte não entendi que somos uma conexão de atos e a cada atitude mundial, uma reação coletiva? Me confesso olhando para o sol. Deixo ele queimar meu rosto e enrubesço de vergonha. Lendo e ouvindo tanto sobre os povos nativos das florestas, rio da minha existência. Eles sim são sábios. Precisam do verde, da água, do ar… e eu, atrás da grana pra sobreviver. Se não tivermos terra, de que adiantará o vil metal?
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