Eu tento ver o copo cheio, mas a atual sociedade brasileira está doente. De fome, de saúde, de trabalho. Quando olhamos os maduros, dói mais. Aquele olhar parado, aquele banzo sobre o futuro. O que será? A aposentadoria irregular, pois muitos ainda não se organizaram para receber o benefício, as poucas oportunidades profissionais e os custos grandes com remédios – e aquele papo dos achaques que começam a pipocar aqui e ali.
Oculista, dentista, fisioterapeuta, endocrinologistas e tantos “istas” viram assunto nos papinhos dos 50+. Outro ponto é a saúde mental. Ficou no pé. A pandemia agravou o cenário e, hoje, já de volta ao “novo normal”, vemos cada loucura. Gente que toma remédio pra dormir. Pra acordar. Pra transar. Pra pensar. Pra malhar. Viramos uma farmácia ambulante.
Tem também a obsessão green. Novos veganos, mindfulness people e uma gente que recorre a incensos, unguentos, novas terapias, coisas esquisitas como banhar-se em cubos de gelo ou adentrar uma tenda à 50 graus centígrados. Vejo cada coisa. E tento o caminho do meio, um balanço saudável entre o que funciona e o que eu nunca experimentei.
Mas tá foda. A mulher japonesa que ligou quase 3 mil vezes para a polícia por sentir solidão. Foi presa. A dona que jogou nas redes a relação infiel com o influencer famoso que acabara de perder a mulher, no caso, a traída. E, assim, casos e casos sucessivos de egotrip, falta de humanidade e insensibilidade.
Outro dia, no metrô carioca, o homem quase senil, em situação de rua, carregava sua bolsa de urina à mostra enquanto pedida dinheiro para os remédios. Ninguém no vagão levantou os olhos. Aquele moribundo maduro era invisível. E assim caminha a desumanidade, num ioiô barra pesada de dias sim, dias não. E haja Rivotril.