Tempos estranhos. Não temos maneira mais digital de morrer com a extrema unção dada via whatsapp-vídeo; enterros e cremações no facetime; missas de 7 dia pelo zoom. Eu ainda não me acostumei com esta nova dor dilacerante da partida sentida entre bites e bytes. E imaginar que era apenas uma gripezinha para alguns.
E nesta assepsia de não abraços, não comunhões, não interação é que velamos nossos parentes e amigos. Não sei se Jesus imaginou tamanho esforço que a crença de seus fieis terá que passar e se provar. Ir a uma missa sem comunhão, sem os cumprimentos da palavra de Cristo, sem as bençãos da água benta, sem as velas e os ramos de oliveira… Uma Páscoa insípida, um Dia das Mães distante, caminhamos para não comemoramos as festas juninas -que também são festas religiosas. Nossos santos, tão amados e próximo de nós, viraram algoritmos.
Como será o Natal? Aliás, teremos Natal? Tudo está tão novo nesta vida enfurnada em casa, com uma tela de computador feito espelho, com as lives sendo a nova selfie e o look do dia com cara de pijama, avental e camisola.
Já estou metade grisalha. As unhas descascadas. A depilação vencida, mas minha cabeça está a mil. Esse tal novo normal não me caiu muito bem, mas terei – aliás, teremos – de conviver e achar nosso caminho de Santiago rumo à iluminação diária desta nova fase do mundo.
E estou escrevendo essa coluna enquanto assisto a uma missa de sétimo dia de um amigo não tão próximo, mas super querido dos cariocas. Toda missa que me chamam pelo zoom eu vou. Vou por todos, mas, sobretudo por mim. Quero ouvir os papas, bispos, padres – gente que lida com o sentimento da fé atrás de uma explicação para uma nova conduta da crença. Em nome do Pai, do Filho…