A brecha
Não me reconheço. Sou uma Joana Boba que vai bambeando com os caprichos nocivos de um mundo doido
A luz invade os cantos. Não poupa barreiras. Ilumina mesmo quando quero breu. Não estou para dias. Qualquer tonalidade mais clara me incomoda. Dei para sombras. Acho que é o banzo. Hora guerra lá, hora aqui.
Pessoas pelos ares, ônibus queimados, violência gratuita num grande jogo que mistura Playstation com War. Banalizo. Aliás, essa carnificina jornalística imposta pelos meios de comunicação – dos mais sérios aos TikTokers, me amolecem. Ando que nem fronte de bebê. Mole.
Não me reconheço – sim – sou uma Joana Boba que vai bambeando com os caprichos nocivos de um mundo doido. A guerra é religiosa? Deus deve estar tonto de tanto ser invocado. Tomou o lugar do demônio e não tem mais paz. E invoquei uma decisão. Serei alienada.
A conversa recente com a minha colaboradora que faxina em casa foi esclarecedora. Eu perguntei o que ela pensa sobre a guerra do Hamas. Ela disse “é miliciano da minha área”?, emudeci, né. Para que saber sobre a guerra Israel – Palestina se ela enfrenta todos os dias o horror do tráfico?
Me conta cada coisa. A filha que foi molestada pelo novo marido da irmã; o vizinho que morreu de COVID e deu urubu na laje, pois seu corpo pereceu na sala e os bandidos não queriam retirá-lo; a sobrinha que foi morta pelo novo namorado com três tiros na cara.
Tá bom, santa? Para quem vive esse palco das desilusões não há motivo para crenças. E eu ainda encanada pelas brechas. A mesma que não me permite o escuro que o momento exige. Mas sabe-se lá se essa invasão iluminada não seja o próprio Deus dando as caras? Imagina se fecho de vez a porta? Ouso não.