O meu desenvolvimento sustentável iniciou com a minha mãe. Ela, desde que me entendo por gente, adotou um estilo de vida mais consciente e responsável, e se tornou a minha principal referência. Lembro que em minha adolescência, por volta dos meus 15 anos, uma das atividades regulares dela, Silvia Simonek, era armazenar aquela água do chuveiro que acumula enquanto ele esquenta para lavar o banheiro e demais cômodos da casa. Ela também reutilizava a água da máquina de lavar com a mesma finalidade.
Outro exemplo de minha mãe que me marcou muito é o de otimizar a forma como nos relacionamos com os alimentos. Nunca tivemos banquetes repletos de comida em casa, era sempre bem porcionado, ou seja, desperdício de alimentos era proibido.
Me alimentava bem tanto fisicamente como mentalmente, porque passei um período significativo estudando sobre sustentabilidade e temas relacionados. Dentro desse processo, descobri a moda circular e, com 23 anos, busquei trabalhar com marcas que valorizassem a sustentabilidade.
Foi então que ingressei no “Etiqueta Única”, portal que intermedia a compra e venda de artigos de luxo seminovos entre terceiros. Por lá, conheci outras iniciativas de trabalho no mesmo formato. Foram sete anos dedicados a uma empresa e pessoas preocupadas com o meio ambiente, e dentro deste período eu me casei (2015).
Eu e o meu marido, Renan Georges, mudamos para uma casa para cuidar da nossa família e desde o primeiro dia instaurei uma rotina de hábitos sustentáveis me valendo dos ensinamentos da minha mãe e da bagagem de exemplos do trabalho.
Sustentabilidade: do escritório para o lar
Diminuímos o consumo de carne, realizávamos a separação do lixo semanalmente, encurtamos os banhos e substituímos as escovas de plástico por biodegradáveis e diminuímos o consumo de carne.
Quando o meu filho mais velho, Joaquim, nasceu substitui as fraldas sintéticas por fraldas de pano por um período. É uma mudança delicada, porque as pessoas acham que é uma coisa meio indie, mas não, a fralda de pano é maravilhosa, é muito mais gostosa e confortável do que a sintética.
Essa mudança necessita de organização, a mãe que optar por ela precisa entender que envolve vários fatores: tempo e pessoas para ajudá-la são os principais. Por falar em tempo, minha jornada rumo ao desenvolvimento sustentável também foi marcada por dois momentos importantes.
O primeiro começou com a chegada do meu segundo filho, Rafael, no meio da pandemia de Covid-19. A essa altura, eu já tinha retomado minha carreira profissional e conciliava a atenção do trabalho com a maternidade e as preocupações com a epidemia. Com a alta demanda de atenção, precisei deixar de lado alguns hábitos e, com o passar dos anos, terceirizá-los.
A minha virada de chave chegou quando o meu filho Kim, o Joaquim, pediu ajuda para realizar alguns projetos da escola. Um deles o marcou bastante: a limpeza dos oceanos. Descobrimos juntos que nós humanos despejamos mais de 13 milhões de toneladas de lixo plástico nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. Isso sem contar com a poluição dos rios. Ele relatava alarmado sobre como a quantidade de lixo produzida em uma das praias pesquisadas no projeto poderiam erguer mais de 10 prédios.
No final do mesmo ano (2023) programamos uma viagem para o litoral. Ficamos uma semana de férias por lá e cada dia que visitávamos a praia, ele recolhia todo o lixo que encontrava. Aliás, foi nesse período, final de 2023, que o segundo e definitivo momento para me reconectar com a responsabilidade socioambiental aconteceu. Assim que voltei de férias, conheci a Letícia Veloso e a Marina Cançado, cofundadoras da ATO.
Por estarem à frente de uma empresa de consultoria de comunicação para sustentabilidade, as meninas me convidaram para uma imersão no tema cujo objetivo era fomentar narrativas, soluções e comportamentos na prática sustentável. Nunca vou esquecer da pergunta que elas me fizeram: Qual legado você quer deixar para os seus filhos?
A resposta fez com que eu e a minha família retomássemos os hábitos sustentáveis que já conhecíamos e os novos que aprendemos com as meninas da ATO, como, por exemplo, a troca de todos os produtos de limpeza.
É impressionante o quanto eles agridem o meio ambiente. Troquei todos por produtos biodegradáveis. As pessoas acham que eles são mais caros e difíceis de encontrar, mas não. São muito melhores que os convencionais por serem muito mais concentrados. Em qualquer mercado é possível encontrá-los.
Também reduzimos o consumo de carne, passamos dois dias da semana sem comer nada de origem animal. Além disso, quando possível, diminuo a utilização do carro. Para trajetos curtos, por exemplo, faço a minha locomoção de bicicleta.
Esse cotidiano sustentável despertou a necessidade de alcançar ainda mais pessoas. Como comunicadora, comecei nas minhas redes sociais de forma despretensiosa. E deu tão certo que o primeiro evento que promovi, dentro da minha área de atuação, foi sobre desenvolvimento sustentável.
A ideia era convidar mulheres do meu ciclo de amigas com pouco e muito conhecimento no tema para uma manhã de troca. Recebi a Gabriela Moraes, Monica Benini, Gisela Saback e mais 17 mulheres para uma roda de conversa mediada por mim, Leticia Veloso e a Marina Cançado. Juntas, promovemos um debate sobre sustentabilidade e os hábitos que poderíamos colocar em prática de imediato.
Isso porque a crise climática não é mais uma preocupação distante, é um grito de socorro que precisamos ouvir agora! O meu objetivo é impactar mais pessoas sobre a importância de reduzir a pegada de carbono.
Segundo a campanha da ONU, #ActNow (#AgirAgora, em português), se um bilhão de pessoas entrassem em ação, até 20% das emissões globais de carbono poderiam ser reduzidas.
A boa notícia é que, aqui no Brasil, houve um aumento no número de pessoas que se preocupam com hábitos sustentáveis de 74% para 81% – mapeamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que fez um comparativo de 2023 em relação a 2022. São atitudes individuais que influenciam um conjunto de pessoas que podem mitigar os efeitos do aumento da temperatura global. Vamos juntas?