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Flavia Viana

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Bailarina e jornalista, ou jornalista e bailarina. Tanto faz. A coluna fala sobre métodos, histórias, entrevista pessoas, mostra tendências, espetáculos, entre outros assuntos relacionados, mas colocando em tudo isso o mais importante: seu grande amor pela dança
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Bailarina Márcia Jaqueline fala sobre o Dia Internacional da Dança

Primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que também já dançou na Áustria, compartilha um pouco de sua história

Por Flavia Viana
29 abr 2024, 16h39
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  • Hoje, 29 de abril, é comemorado o Dia Internacional da Dança ou Dia Mundial da Dança. Essa data foi adicionada ao calendário e instituída pelo “Comitê Internacional da Dança” da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) no ano de 1982. O dia foi escolhido em homenagem ao nascimento do mestre francês Jean-Georges Noverre (1727-1810), que ultrapassou os princípios gerais que norteavam a dança do seu tempo para enfrentar problemas relativos à execução da obra.

    Entre os objetivos desta celebração está aumentar a atenção para a importância da dança entre o público geral, bem como incentivar governos de todo o mundo a fornecerem melhores políticas públicas voltadas à prática. Todos os anos aqui na minha coluna, comemoramos contando um pouco da história de bailarinos que são destaques em nosso país e também no mundo. Para este ano, a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Márcia Jaqueline conversou com a nossa coluna com exclusividade.

    Márcia é formada pela Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (EEDMO), e com apenas três anos de idade já era apaixonada pela dança. Aos nove anos, entrou para a EEDMO e começou seus estudos de balé. “Eu tinha só três anos de idade e a Vânia Reis, que era a dona da escola, viu talento em mim e me deixou fazer aulas. Ali começou a minha paixão. Acredito que nem foi uma escolha (risos), sinto que fui escolhida mesmo”, relembra a bailarina.

    Márcia ganhou vários prêmios em concursos e festivais de balé, entre eles os festivais de Joinville, Teresópolis, Curitiba e Rio de Janeiro. Em 1997, ainda com 14 anos, começou a estagiar no balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sendo contratada para o corpo de baile em 1999, tendo a oportunidade de trabalhar com nomes como Gustavo Molajolli, Jean-Yves Lourmeau, Nanon Thibon, Boris Storojkov, Slawa Muchamedov, Elisabeth Platel, Márcia Haydée, Richard Cragun, Olga Evreinoff, Valdimir Vassiliev, Nathalia Makarova, Eugenia Feodorova e Tatiana Leskova,.

    Em 15 de maio de 2007, aos 24 anos, foi nomeada primeira bailarina do TMRJ, juntando-se a um grupo seleto que conta com nomes como Ana Botafogo, Áurea Hammerli, Cecília Kerche, Nora Esteves, Francisco Timbó, Paulo Rodrigues, Vitor Luiz e Cláudia Mota. “Chegar a Primeira Bailarina era um sonho e, depois de conquistado, o trabalho foi e é ainda maior, porque muitas crianças acabam nos tendo como exemplos. A importância de estar muito tempo nesse cargo é fazer com que essas alunas continuem sonhando e acreditando para chegarem lá também”, se emociona Márcia.

    Ao longo dos de todos estes anos como bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Márcia Jaqueline acumula uma gama variada de papéis, atuando tanto como solista quanto como bailarina principal nos balés de repertório, neoclássicos e contemporâneos, além de ter dançado na Cia de Landestheater Salzburg, na Áustria.

    “Dançar na Cia de Landestheater Salzburg foi uma experiência incrível. Tive ballets criados para mim, uma vivência que até então não tinha experimentado na minha carreira. Sinto que cresci muito artisticamente, lá fiz personagens que tinham uma carga emocional muito forte, me fazendo sentir, além de bailarina em cena, mulher”, diz.

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    Bate-papo exclusivo com Márcia Jacqueline

    márcia jaquelina dia da dança
    Márcia Jaqueline conta sobre sua carreira na dança clássica neste Dia da Dança (Márcia Jaqueline/Arquivo pessoal)

    Claudia: Márcia, quando a sua paixão pela dança aconteceu?

    MJ: Minha irmã mais velha fazia jazz e minha mãe me levava junto. Foi assistindo a minha irmã que eu comecei a ensaiar meus primeiros passos. Eu tinha só três anos de idade e a Vânia Reis que era a dona da escola viu talento em mim e me deixou fazer aulas. Ali começou a minha paixão.

    Claudia: Por que a escolha pelo Ballet Clássico?

    MJ: Sinto que fui escolhida mesmo. Eu gostava do jazz e não tinha muito contato com o ballet clássico. Isso aconteceu através da minha tia, Miriam, irmã do meu pai, que teve um sonho bem revelador com sua filha dançando ballet. O curioso era que minha prima se chama Valéria e no sonho era Márcia. Minha tia, que era bastante sensitiva, ligou para minha mãe, pois eu era a única da família naquela época que dançava, disse que era para ela me inscrever na Escola Maria Olenewa, que quando criança ela frequentou. A gente, sem entender muito,  ligou para lá e descobrimos que era o último dia de inscrição. Foi uma correria, mas conseguimos fazer tudo a tempo e assim o Ballet entrou na minha vida.

    Claudia: Você participava de competições?

    MJ: Pouco. Na época que fiz a Maria Olenewa não competíamos muito, teve um ano em que um bailarino da minha turma fez um grupo independente para participar de algumas competições e me chamou. Foi uma experiência bem legal, mas durou somente 1 ano.

    Claudia: Como foi a sua trajetória dentro do Theatro Municipal do RJ?

    MJ: Eu entrei para o Theatro aos 14 anos como estagiária, pois não tinha idade para ser contratada. Fiquei como estagiária por 2 anos e dancei todo o repertório junto com a Cia nessa época. Aos 16, fui contratada pela Dalal Achcar. Passei por todas as etapas dentro da companhia.

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    Claudia: Quais os repertórios mais marcantes que dançou?

    MJ: Tive alguns marcantes e importantes na minha carreira, como Romeo e Julieta, porque além de ser um ballet incrível, trabalhei diretamente com a Marcia Haydée, que é minha maior inspiração. L’arlesiene, que é um ballet de Roland Petit, me fez sentir emoções que jamais tinha sentido em cena até então. Medea, de Reginaldo Oliveira, diretor e coreógrafo do Ballet de Salzburg, do qual fiz parte por 4 anos, porque me levou a uma carga artística que ainda não tinha conhecido na minha carreira. Tudo muito especial e marcante em minha vida.

    Claudia: O que você ainda não dançou e gostaria de ter a oportunidade?

    MJ: Manon, eu amaria dançar.

    Claudia: Você já saiu do país, dançou em outras companhias?

    MJ: Sim, no Landestheater Salzburg na Áustria.

    Claudia: E como foi?

    MJ: Foi uma experiência incrível. Tive ballets criados para mim, uma vivência que até então não tinha experimentado em minha carreira. Sinto que cresci muito artisticamente.

    Claudia: Qual a diferença de dançar no Brasil e fora dele?

    MJ: A maior diferença que senti foi o público, eles lá amam, prestigiam, lotam os teatros, mas aqui tenho pessoas que me acompanham desde que comecei, minha família, então essa energia fazia falta. Mas trabalhar é bem diferente. A valorização que existe lá é um ponto alto, aqui temos sempre que estar correndo atrás todos os dias. Lá faz parte da cultura, vem desde as escolas, as pessoas crescem indo aos teatros e acompanhando essa arte que no Brasil ainda não é valorizada.

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    Claudia: Começar a dançar hoje é muito diferente de quando você começou?

    MJ: Hoje existem muitos treinamentos que ajudam no preparo físico do bailarino, temos o PBT, fisioterapeutas especializados em dança. Isso tudo faz o bailarino ter uma carreira mais constante no sentido do físico. E temos também a internet muito forte, que acaba aproximando mais os bailarinos, professores e teatros de todo o mundo, fazendo essa troca de experiência ser muito importante na construção da carreira.

    Claudia: Você é sempre escolhida para o Quebra Nozes e já dançou com grandes nomes brasileiros e internacionais, fale um pouco sobre…

    MJ: Ah, eu fico sempre muito feliz, porque vejo que é o reconhecimento do meu trabalho. A gente se dedica tanto, e esses convites fazem parte do resultado de toda entrega e amor que temos com essa profissão linda, mas que requer muito foco e determinação.

    Claudia: O que a dança significa pra você Marcia?

    MJ: A dança faz parte da minha vida, da minha construção como ser humano. Me ensinou a ter disciplina, correr atrás dos meus sonhos e a valorizar todas as pessoas que me ajudaram a chegar onde estou hoje. Ela significa minha a minha vida e a minha história.

    Claudia: Quais são as suas maiores inspirações?

    MJ: Márcia Haydée é a minha maior inspiração.

    Claudia: Que ballet mais gosta, você tem isso? Um preferido?

    MJ : Eu tenho alguns. Romeo e Julieta, L´arlesiene, Medea , Onegin e Giselle.

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    Claudia: Como você cuida do corpo e da saúde?

    MJ: Eu não tenho muitas restrições, inclusive amo doce e é muito difícil eu dispensar um. Mas tento comer saudável, faço PBT, que me ajuda muito no Ballet, fisioterapia para prevenção de machucados, e gosto muito de correr, que ajuda muito no meu cardio.

    Claudia: Como se prepara para uma apresentação?

    MJ: Não tenho um preparo específico, não. Eu tento dormir cedo, me alimentar bem para não ter nenhum mal estar no dia ,e no teatro. antes de entrar em cena, leio um salmo da Bíblia e como algumas paçoquinhas para dar energia – e coca-cola também (risos).

    Claudia: Um MOMENTO marcante da sua carreira em que ficou MUITO feliz!

    MJ: Quando fui promovida Primeira Bailarina do TMRJ.

    Claudia: Um momento triste…

    MJ – Quando tivemos a crise no RJ e ficamos sem dançar por falta de salário. E quando machuquei o meu joelho, em julho de 2023. Rompi um ligamento e precisei fazer uma cirurgia e dar um tempo para me recuperar. Mas mês que vem eu retorno aos palcos e será emocionante, tenho certeza disso!

    Claudia: Um conselho para as jovens de hoje na dança…

    MJ: Talvez um pouco repetitivo, mas é o que eu acredito ser fundamental…Disciplina, foco e principalmente respeito com os colegas e professores, sempre buscar o seu sonho através dos seus esforços, nunca por cima de algo ou de alguém.

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    Claudia: Para este ano…

    MJ: Comecei uma coreografia de 27 minutos e eu fiquei completamente apaixonada pelo processo e resultado, então um plano para este ano é fazer um Novo Ballet, mas dessa vez maior, com atos, cenários… Estou feliz e bastante animada e dedicada!

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