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Flavia Viana

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Bailarina e jornalista, ou jornalista e bailarina. Tanto faz. A coluna fala sobre métodos, histórias, entrevista pessoas, mostra tendências, espetáculos, entre outros assuntos relacionados, mas colocando em tudo isso o mais importante: seu grande amor pela dança

Aos 60 anos, Leo Jaime faz aula de balé diariamente. “Dança é para todos”, afirma

O cantor de 60 anos voltou a dançar há dois. Seu retorno às aulas de dança veio após a vitória da Dança dos Famosos, em 2018

Por Flavia Viana
Atualizado em 9 ago 2021, 20h55 - Publicado em 9 ago 2021, 20h44
Léo Jaime
Jaime participou do Dança dos Famosos em 2018 (| Tielle Mello/Divulgação)
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“A dança é para todos. Todas as idades, todos os tipos físicos, todos os ritmos. Dançar é desenhar poesia com o corpo”, explica Leo Jaime, cantor, compositor, ator, escritor e bailarino. Fiquei muito emocionada quando eu li isso, porque é a verdade!

Sim! Léo é bailarino e fez diversas modalidades de dança quando era mais jovem. Após vencer o quadro Dança dos Famosos, da Rede Globo, em 2018, ele resolveu que era a hora de voltar a dançar. Na verdade, o programa foi o seu maior incentivo.

Quando o goiano chegou ao Rio de Janeiro, ele entrou para o Teatro e Movimento e passou a praticar danças diariamente. “Conseguiram uma bolsa para mim na escola da Tatiana Leskova. Lá, eu tive o meu primeiro contato com o balé e gostei muito”, relembra.

Há algum tempo, Leo vem atraindo olhares de milhares de pessoas (inclusive o meu), com as postagens de fotos e vídeos de suas aulas de balé.

Por ser uma pessoa com mais idade e acima do peso, alguns criticam, mas a maioria elogia e o incentiva muito, principalmente a sua família. “Não me abalo. Às vezes respondo para que haja uma reflexão ou um bom debate sobre o tema”, conclui. Aos 60 anos, Léo se desafia, como todo o bailarino seja profissional ou não. Dança é desafio e superação com nós mesmos.

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É visível a sua satisfação e realização ao fazer suas aulas presenciais e online. Em momentos de pandemia, elas foram fundamentais para o cantor.

“Era preocupante não sair nem na porta, não tomar Sol, não ver a rua”. Na escola onde faz as aulas, é amigo dos bailarinos e todos gostam muito dele. Recentemente, deixou de ser o único homem da turma.

“Agora temos um outro homem na turma, que é sensacional, aplicadíssimo e tem muita vocação”, conta o ator. Entre os passos que mais gosta de praticar em suas aulas estão os pliés, tendus e battements.

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Uma publicação compartilhada por Leo Jaime 🇧🇷 (@leojaimeoficial)

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Leo Jaime é pura inspiração! Dançou dos 18 aos 22 anos e retornou aos 58. Eu, que sempre fui fã passei a ser ainda mais, tive o prazer de entrevistar o cantor na última semana. Ele me falou um pouco da sua relação com a dança desde o início. Sobre machismo, preconceito e de como foi voltar a esse universo que o fez melhor e ainda mais feliz.

Você já fez aulas de dança quando era mais jovem?

Meu interesse por artes começou quando assisti ao primeiro filme com atores na infância. Era um filme dos Beatles e eu fiquei encantado. Queria ser igual a eles. Fiquei fã do Ringo. Ainda na infância, comecei a estudar música, teatro e me interessei por literatura e esportes. Na adolescência comecei a tocar em bandas, cantar em barzinhos e estudar dança e teatro.

Para mim, parecia que todos os aprendizados eram convergentes. Todos os ensinamentos poderiam ser úteis no palco. Fui para Brasília e lá comecei a trabalhar com o Grupo Pitu, com o genial Hugo Rodas. Fui para ser músico do espetáculo que eles estavam apresentando na época, Os Saltimbancos, mas acabei mesmo entrando no coro porque a banda não precisava de músicos, mas o elenco no palco sim. Era uma companhia de teatro e dança contemporânea.

Léo Jaime vence o ‘Dança dos Famosos’ 2018

Em seguida vim para o Rio e fui trabalhar na Companhia de Klaus e Angel Vianna, o Teatro do Movimento. E aí fazia aulas de dança o dia todo. Conseguiram pra mim uma bolsa na escola da Tatiana Leskova e fiz meu primeiro contato com o balé. Gostei muito.

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E por que parou?

A rotina dos shows já estava tomando rumos mais sérios. Aos 20 anos, já tinha música minha tocando nos rádios. Chegou uma hora em que eu percebi que precisava me concentrar no trabalho musical e parei as aulas de dança.

Você participou da Dança dos Famosos em 2018 e venceu. Como foi essa experiência?

Foi muito rica. Tinha muito medo de fazer, porque o julgamento dos outros sempre foi muito forte em relação ao fato de eu ter ganhado peso com o tempo. Com isso não tinha coragem de entrar em uma escola de dança, mesmo tendo vontade. Fazia umas aulas de alongamento, de dança de salão, mas não me sentia muito tranquilo.

Aceitei fazer a Dança dos Famosos quando me convidaram pela quinta ou sexta vez. Duas coisas me pareciam muito desafiadoras: me expor fisicamente e “estrear” ao vivo na TV. Sempre fico muito nervoso em estreias. No dia em que dancei a primeira coreografia ao vivo na TV, a minha única preocupação era não desmaiar.

Minha competitividade ia até a página dois: só não queria ser o primeiro a ser eliminado para não legitimar o preconceito. Fui pra dançar e não pra fazer o “gordinho” divertido. Tive uma parceira maravilhosa. Grande dançarina e muito boa professora. Fiquei muito envolvido, amando o que estava fazendo, torcendo para ficar um pouco mais. E foi assim que cheguei na final. Curtindo. Sem pensar na competição.

Por isso voltou a fazer dança?

Sim, aí retomei. Voltei a fazer aulas de sapateado, mesmo não sapateando no programa. Comecei também a fazer hip hop, que é um excelente exercício aeróbico além de ser muito divertido.

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Dança também é desafio na sua opinião?

Dança é uma forma de manter o físico funcionando bem, trabalhando a força, a consciência corporal e alongando os músculos. Mas uma coisa torna a dança mais especial para mim: é arte. O universo da dança, da linguagem corporal é muito rico. E a música está lá o tempo todo, mesmo quando há silêncio.

Por que escolheu o balé clássico? 

De todos os exercícios que já fiz este me pareceu o que mais me deu resultados. Eu amo assistir dança e isso ajuda um pouco, eu acho.

Qual a frequência que pratica?

Estou matriculado para ter aulas diárias. Presencial, faço de segunda, quarta e sexta-feira, com 1h30 de duração. Já de terça e quinta, tenho aula online por uma hora. Agora, parei com o hip hop, mas pretendo retomar uma ou duas aulas por semana.

Já se apresentou no palco ou em alguma aula de gala?

Nesta retomada, ainda não.

Já dançou um pas de deux (passo de dois)?

Acho que não conseguiria. A idade faz com que a evolução seja bem mais lenta. Ou talvez a gente nem evolua, só retarde um pouco as limitações que a idade acaba trazendo. Não tenho grandes ambições na dança, a não ser ir fazendo as aulas e aprendendo a fazer movimentos novos.

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Quais são os passos que gosta muito de praticar?

Gosto dos pequenos saltos, dos pliés, dos tendus, dos battements. Tenho um pouco de problemas com os developes e os adágios (risos). E piruetas eu curto, mas tenho dificuldades com os relevos, passes e em ficar na meia ponta muito tempo.

Como é a sua relação com os outros bailarinos?

Amo a minha turma e a nossa professora. É uma turma incrível! E agora temos um outro homem, que é sensacional, aplicadíssimo e tem muita vocação.

Você começou a chamar a atenção de milhares de pessoas quando começou a postar seus vídeos fazendo balé, inclusive o meu (risos).

Pois é, na final da dança dos famosos, fui muito gongado nas redes sociais porque a minha torcida era um décimo da torcida da Dani e da Érika. Porém, muita gente curtiu minha participação e se sentiu autorizada a dançar, se expor, se aceitar, não tendo a “idade certa” ou o “corpo ideal”. Duas falsas premissas que a minha participação contestava. Essas pessoas foram a minha motivação para mostrar que eu podia fazer aulas e mostrar meus humildes progressos.

Muito preconceito? Machismo? Gordofobia?

A quantidade de manifestações deste tipo nunca chegou a 1% do que eu recebo. Em geral são os homens que se sentem incomodados ou fazem piada. E eu acho bacana que isso aconteça. É bom que surja um debate sobre essas questões.

Você se abala com comentários maldosos? 

Não me abalo. Às vezes respondo para que haja uma reflexão ou bom debate sobre o tema. Mas tenho que dizer que as mensagens de gente que retomou a dança, se permitiu dançar já maduro ou que começou a se aceitar mais em relação à forma física ou idade, me motiva muito a continuar. Sou muito grato!

Fez aulas online na pandemia? Isso te ajudou e ajuda nesse período que estamos vivendo?

Fiz e ainda faço, mas não é a mesma coisa. O sedentarismo foi quase que obrigatório durante um tempo. Era preocupante não sair nem na porta, não tomar Sol, não ver a rua. Não tive Covid-19, ninguém em casa teve e já estou imunizado, mas continuo me cuidando muito.

Você já viu vídeos e fotos de pais que dançam nas salas com seus filhos e/ou filhas para incentivá-los? O que acha?

Acho que essa onda de Tik Tok fazendo o povo dançar muito estimulante. Acho ótimo que filhos e pais dancem juntos. O corpo que dança é um corpo feliz.

Seu filho e família te incentivam a fazer aulas?

Sim. Todos me incentivam.

Queria que você deixasse uma mensagem de incentivo para outras pessoas voltarem ou começarem a dançar.

A hora é você quem faz. O importante é saber dar um passo de cada vez, sem se preocupar com julgamentos, competições, metas. Deixe o corpo ir ganhando espaço, ouvindo a música, se permitindo a expressão corporal. Pode ser forró, rock, valsa, clássico, zumba, tanto faz. Ele só precisa se soltar e dançar como se ninguém tivesse olhando. É ótimo!

A dança é para todos?

A dança é para todos. Todas as idades, todos os tipos físicos, todos os ritmos. Dançar é desenhar poesia com o corpo.

 

 

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