Idealizado pela atriz, cantora, autora, compositora e produtora Eline Porto, o espetáculo “Por Elas – Um Musical sobre a força do canto feminino”, primeiro espetáculo brasileiro da sua produtora Andarilho Filmes, é mergulhado em histórias autênticas de mulheres reais. O musical, dirigido por Stella Maria Rodrigues e com direção musical de Claudia Elizeu e Erica de Paula, tece um fio condutor de emoção e ressonância através da música, e fica em cartaz até o 08 de fevereiro no teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro.
Motivada por sua paixão por narrativas diversas e impulsionada por uma profunda conexão com as mulheres de sua família, Eline embarcou, nos últimos três anos, na jornada de compreender as raízes e os caminhos trilhados pelas gerações que a precederam.
O resultado, culminado em um musical inédito, é a celebração da resiliência feminina, contada através de mais de 20 músicas que ecoam em cada capítulo das vidas dessas mulheres extraordinárias, que inclui sucessos de nomes como Gal Costa, Rita Lee e Elza Soares, com arranjos vocais exclusivos.
“Fui criando as personagens como uma colcha de retalhos, com base em histórias diversas que já ouvi e também da minha imaginação. Digo que é uma grande celebração da força e união feminina, representando a interconexão entre diferentes origens. Cuidei de perto de cada detalhe, incluindo a escolha da identidade visual, que usa de uma imagem principal com todas as mulheres entrelaçadas, simbolizando o apoio mútuo, a sororidade e o acolhimento presente na jornada de cada uma, representado também na cor mais presente e que tem esse elo: o Amar-elo”, revela.
Pensando em um elenco diversificado, Eline reuniu nomes que admira não apenas por suas habilidades artísticas, mas também pela essência humana que trazem ao palco. Ela entra em cena ao lado de Jana Figarella, artista nortista que não só brilha como atriz, mas também é reconhecida como talentosa compositora e percussionista.
Marya Bravo, fonte de inspiração para Eline, traz sua potência vocal e presença marcante ao espetáculo. Além de Estrela Blanco, conhecida por seu timbre diferenciado e encantador, e Suzana Santana, que cativou Eline no musical “A Cor Púrpura” com sua notável habilidade artística, além de três músicos que acompanham o grupo, preparado vocalmente por Beto Sargentelli.
“‘Por Elas’ é um musical feminino, popular e que aposta em uma duração curta e uma equipe reduzida, o que o torna atrativo para a itinerância, uma vez que temos o intuito de levá-lo a outros estados e cidades do país. E embora comunique com todos os gêneros e idades, acredito que o público homenageado vai se identificar bastante, seja com as histórias ou com o repertório musical, embalado por sucessos de grandes nomes da música nacional e internacional”, aponta.
Presença marcante tanto nos palcos do teatro musical quanto nas telas do audiovisual, a atriz vem conquistando seu espaço pautado na versatilidade artística.
Com um currículo que inclui produções de peso como “Cássia Eller – O Musical”, “Dois Filhos de Francisco”, “Os Últimos 5 Anos” e “Nautopia”, Eline continua a se destacar como uma das figuras mais promissoras do cenário artístico contemporâneo.
Recentemente indicada ao Prêmio Bibi Ferreira como Melhor Atriz por sua interpretação arrebatadora em “Bonnie & Clyde”, Eline expressa sua gratidão e entusiasmo pela honra recebida. Para ela, essa indicação representa a culminação de anos dedicados ao estudo, empenho e persistência no mundo da atuação.
Confira a entrevista exclusiva com a atriz Eline Porto
Claudia: Pela primeira vez você está envolvida na criação, produção e atuação de um projeto, o musical “Por Elas”. Como tem sido conciliar essas 3 funções e assinar seu primeiro texto?
Eline: Uma grande loucura (risos). Já tinha escrito roteiros para o audiovisual, recentemente escrevi a websérie “Eu Persona”, também voltada para o público feminino, mas para teatro foi a primeira vez e adorei viver todo esse processo.
Estou muito feliz de ver o projeto sair do papel e se materializar, com casa cheia, tantos elogios, mas o corre de produção é bem grande, de fato. O que sempre tento fazer é dividir horários para cada função. Tenho a sorte de ter uma equipe de produção maravilhosa para que eu consiga focar só na atriz sempre que preciso.
Claudia: Como surgiu a inspiração para criar o espetáculo “Por Elas” e o que espera transmitir ao público através dessa produção?
Eline: Surgiu da vontade de homenagear as mulheres da minha família, que são um grande exemplo de força e fonte de inspiração pAra mim.
Espero que o público se identifique de alguma maneira com as histórias que estão sendo contadas ali, seja pela memória afetiva, pelo discurso que faz uma crítica social sobre o papel da mulher ou mesmo pelas canções que trazem pro palco temas como luta, amor, resiliência e nostalgia.
Claudia: Como foi o processo de pesquisa e criação do texto e das personagens para representar essa interconexão?
Eline: Sou apaixonada por ouvir histórias e, ao longo da minha trajetória como artista, fui conhecendo muitas mulheres pelo Brasil. Fiz – e ainda faço – um espetáculo que rodou as 27 capitais, “Cássia Eller – O Musical”, e essa experiência mudou minha visão de mundo.
Somos diversas e somos muitas e queria trazer isso pro palco. Falar sobre a mulher real, a que trabalha, acorda cedo, luta pelos seus sonhos e que tem uma vida cheia seus desafios. Quis trazer pontos de vista diferentes, de realidades sociais distintas e lugares do Brasil que fugissem o eixo Rio – SP.
Dividi o texto em cinco monólogos principais, entre outras cenas para abordar esses temas importantes na construção social do papel da mulher, e fui criando as personagens como uma colcha de retalhos das histórias que já ouvi e também da minha imaginação.
Claudia: O espetáculo conta com uma equipe criativa majoritariamente feminina. O que motivou essa escolha e de que forma acha que ela contribuiu na concepção deste projeto?
Eline: Quis fazer uma peça feita para elas, por ELAS. Por nós, mulheres. Pra mim, não poderia ser de outro jeito. O olhar feminino faz toda a diferença quando o assunto é a mulher. Só elas saberiam colocar no palco, através da direção, o que escrevi. Fora que acho importante termos mulheres em funções de destaque.
O meio teatro é composto por muitos homens que assinam as funções mais importantes num processo criativo, como direção e direção musical, por exemplo. Optei por mulheres incríveis para essas funções. Quis chamar a Stella (Maria Rodrigues), que não só é uma atriz excepcional, mas também uma diretora talentosíssima. Ela tem a sensibilidade e o bom gosto que eu procurava.
Claudia: “Por Elas” aborda temas relevantes sobre o papel da mulher. Como acredita que o espetáculo pode contribuir para essa discussão e promover reflexões na sociedade?
Eline: Falar é importante. Ouvir também. O que precisa ser dito? Contado? Esses questionamentos são abordados na peça. Como temos usado a nossa voz para comunicar o que é importante? Não vamos mais silenciar nossas dores, desafios, angústias. O teatro aproxima o público da plateia e a ideia com “Por Elas” é abrir essa roda de conversa para uma troca saudável e para pensarmos caminhos mais interessantes em conjunto.
Claudia: O musical tem uma trilha sonora com sucessos de diferentes cantoras. Como foi o processo de seleção das músicas?
Eline: Foi de uma forma muito natural. São 5 histórias e cada uma delas pedia um estilo diferente. Comecei pelas cantoras que mais me inspiraram na vida, as que não podiam faltar… Gal Costa, Elis Regina, Elba Ramalho, Rita Lee, entre outras, que, através das suas vozes, marcaram gerações, e fui trazendo também músicas que a dramaturgia pedia, para ajudar a contar melhor a história de cada personagem.
Claudia: Qual mensagem, emoção, você acredita que o público leve consigo após assistir a “Por Elas – Um Musical sobre a força do canto feminino”?
Eline: Ser mulher é poderoso demais, há um fio que liga todas nós! Meu desejo é que o público sempre saia do teatro lembrando, enaltecendo e celebrando todas as mulheres que vieram antes deles.
Claudia: Ainda sobre sua trajetória no Teatro Musical, em 2023 você estrelou o musical “Bonnie & Clyde”. Como foi interpretar e dar vida a essa mulher icônica?
Eline: Foi maravilhoso. A Bonnie é daquelas personagens que dão gosto de fazer, com uma curva dramática imensa e uma partitura vocal lindíssima, uma delícia de construção para uma atriz. Fui muito feliz ao interpretar a ruiva misteriosa e espero encontrar com ela já, já.
Claudia: Por esse trabalho você recebeu importantes indicações como atriz, nos Prêmios Bibi Ferreira e Destaque Imprensa Digital. De que forma acredita que isso reflete no seu trabalho?
Eline: Sou grata pela indicação, porque sei o quanto me dediquei para fazer essa personagem. São 23 anos de carreira, o reconhecimento do trabalho árduo é sempre bem-vindo. Bonnie me fazia ir, em 2 horas de peça, da inocência de uma jovem passando pela ambição, pela fúria de viver uma relação tóxica até o completo descontrole emocional de se perder no crime. São muitas nuances que essa personagem me proporcionou explorar, e ter o público, ali, diariamente dizendo que o amor da Bonnie os emocionava quando a canção “Se ele for morrer” acontecia no palco, é o maior prêmio para uma atriz.
Claudia: Recentemente, você também lançou seu primeiro álbum autoral, “Coração na Boca”. Fale sobre a inspiração por trás desse trabalho e o que o público pode esperar ao ouvi-lo?
Eline: “Coração na Boca” é meu primeiro álbum, produzido pelo Pipo Pegoraro e Lourenço Rebetez, ambos indicados ao Grammy Latino pela produção do álbum da Xênia França, e tem como fio condutor as relações. É um mergulho sonoro nas sensações que cada fase vivida a dois propõe. As faixas passam pela euforia do início, o conforto e os desafios do meio, até a dor do fim.
São 12 canções que misturam camas vocais, arranjos de cordas, arranjos de sopros, e tem uma forte presença dos violões e da percussão. Eu me inspiro bastante nas cantoras Mayra Andrade, Marisa Monte e Gal Costa. Já está disponível em todas as plataformas digitais!
Claudia: Quais são os planos para 2024?
Eline: Tenho vários! Show de lançamento do álbum, novas canções para sair, as temporadas das peças da minha produtora, Andarilho Filmes, começando pelo “Por Elas”, no Teatro Clara Nunes – Rio de Janeiro, mas já planejando levar para São Paulo em breve, e inclusive retornar ao Rio para uma segunda temporada; adoraria fazer também uma turnê, pois rodar o país sempre está nos planos.
Tenho ainda alguns projetos para o audiovisual, que já estão sendo desenvolvidos, recentemente teve a minha estreia na série “Betinho”, que chegou há pouco mais de um mês no Globoplay, dirigida pelo Júlio Andrade, com quem já tive o prazer de trabalhar junto em “Serra Pelada” e no “Sob Pressão”. Nela o público pode me ver na pele da personagem Marcolina, primeira paixão do Betinho. Foi um trabalho incrível e a série está linda! Vale a pena assistir!