E a minha coluna de hoje talvez seja uma das mais especiais desde que estreie por aqui em 2019. Bom, não preciso comentar com vocês sobre a minha paixão pela dança e pelo ballet, até porque é o meu tema central nesse espaço e algo totalmente latente em mim.
Por isso, após o meu último ensaio geral hoje, resolvi dividir com vocês a minha experiência como bailarina adulta de dançar pela primeira vez aos 46 anos, um dos balés mais conhecidos do mundo, ‘O Lago dos Cisnes’. Na verdade, em abril desse ano consegui fazer algo que desejava há muito tempo, dançar no BLA (Ballet Livre Adulto), justamente por ser um espaço de dança focado em ensinar adultos a dançarem independente de idade ou de seus corpos.
“Inicialmente o BLA surgiu como um grupo de alunas adultas e amigas que queriam um espaço para praticar entre elas, e montar um espetáculo. Então procuramos um espaço físico e um professor para dar as aulas e nos ajudar. Esse grupo foi crescendo e, quando vimos, virou uma escola. Foi totalmente orgânico, pois quando começamos não tínhamos a intenção de montar um negócio, e com o tempo, acabou virando uma escola de dança para adultos”, explica Larissa.
Quando as sócias Thaís Novellino (42), Larissa Santo André (40) e Márcia Ylana (33) que são respectivamente advogada, enfermeira e bailarina fundaram o BLA há pouco mais de 6 anos, eu infelizmente não conseguia fazer aulas lá por uma questão de logística mesmo. Confesso que sempre foi bastante frustrante pra mim, porque conheci as meninas em 2014 em outra escola de dança, e quando saímos dela depois de algum tempo o BLA nasceu, mas não consegui estar com elas naquela época. Pois é, alguns anos se passaram, e a minha nova localização geográfica finalmente me permitiu viver algo tão especial.
Na verdade, além de dançar no estúdio, passei a fazer parte do corpo de baile de um ballet lindo, forte, dramático e emblemático, ‘O Lago dos Cisnes’. “Nós mesmas queríamos fazer aulas de qualidade apenas com adultos, e também percebemos que na época não tinham escolas sérias focadas nesse público. Quando tinha, era algo bem simples, sem muita importância por serem adultas o que para nós era fundamental”, relembra Thais. ‘O Lago dos Cisnes’ tem um elenco formado 100% por bailarinas adultas, sendo elas médicas, advogadas, enfermeiras, nutricionistas, jornalistas, publicitárias, entre tantas outras profissões, inclusive da multiartista Luana Miyamoto que criou ilustrações lindas para nos inspirar ainda mais durante todo o processo.
Para quem não conhece o ballet que vamos dançar, divido mais uma vez o espaço dessa coluna com a minha parceira de CLAUDIA e também apaixonada por ballet Ana Claudia Paixão. No texto ela fala um pouco sobre o Lago… “O balé O Lago dos Cisnes é inspirado em uma lenda alemã sobre uma jovem princesa, Odette e suas acompanhantes que estão sob o feitiço de um feiticeiro malvado, Von Rothbart, que as transformou em cisnes durante o dia. À noite, eles recuperam suas formas humanas e só podem ser resgatadas se um jovem jurar amor eterno e fidelidade à princesa.
Quando o príncipe Siegfried jura seu amor por Odette, o feitiço pode ser quebrado, mas Siegfried é enganado e declara seu amor pela filha de Von Rothbart, Odile, disfarçada por magia como Odette, e tudo parece perdido. Mas o feitiço é finalmente quebrado quando Siegfried e Odette se afogam em um lago de lágrimas, unindo-os na morte por toda a eternidade. A longevidade do favoritismo dos bailarinos e do público por ‘O Lago dos Cisnes’ tem algumas explicações, de uma música emocionalmente profunda e inspirada, assinada por Tchaikovsky, a coreografia precisa de Petipa-Ivanov, magia e drama.
Dentre as mais famosas a dançarem Odette-Odile estão, Margot Fonteyn, Anna Pavlova, Galina Ulanova, Maya Plissetskaya e Natalia Makarova, para citar apenas poucas”. Pois é, fazer parte do corpo de baile desse ballet com a remontagem da bailarina profissional e sócia do BLA Márcia Ylâna, me inseriu em um novo processo da minha vida e me fez acreditar que aos 46 anos eu posso romper barreiras que não imaginava, e essa é a grande diferença do ballet adulto, não só pra mim, mas para todas as mulheres e homens que estão ali, isso inclui a publicitária Milena Pontes que viverá uma das personagens principais do ballet, a princesa Odette.
“Me surpreendi muito com o convite, mas assim que recebi fui assistir as grandes cias para rever o ballet com olhos de bailarina. Pessoalmente, tentei não me inspirar muito tecnicamente, afinal minhas habilidades estão em outro nível e a proposta da escola é justamente adaptar o ballet e torna-lo possível para os nossos corpos. Mas adicionei a minha rotina treinos específicos para melhorar a expressividade dos braços, e também vi entrevistas e documentários de bailarinas falando de suas experiências para encontrar o tom da interpretação”, explica sobre a construção de sua Odette.
É um desafio para quem dança, e também para quem dirige, aliás, para quem faz as duas coisas. “Fazer o Lago foi um pouco mais intenso do que a montagem de outros ballets, pois envolveu misturar diversos níveis técnicos num só corpo de baile, o que exigiu ensaios extras fora dos horários das aulas, e uma paciência e compreensão maior por parte dos alunos. Além disso, é um ballet difícil, longo e muito clássico, o que por si só já exige maior comprometimento e dedicação por parte de todos”, explicam as três sócias que também estarão no elenco. No palco, o corpo de baile, grandes e pequenos cisnes, personagens icônicos do ballet, e muitas Odettes e também Odiles.
“Meu sentimento é de superação, de um mega desafio que consegui enfrentar com muita leveza. É a primeira vez na minha vida que vou atuar em um papel principal e era realmente um sonho que vai se realizar”, expressa Larissa que será uma das Odiles do repertório. A energia que circula e a paixão de cada uma é algo que contagia, e ser bailarina adulta é isso, e confesso que faz parte de todo o processo. Um dia você faz uma aula e sai frustrada, e algum tempo depois você está ali, no palco vivendo um sonho, e quando olha pra trás entende que o ballet adulto é possível, porque ele faz com que você acredite em você com leveza, responsabilidade e com o sentimento que nos move a cada aula e a cada passo finalizado, mesmo que ainda em construção, porque é tudo de dentro para fora. E foi assim, à partir desse sentimento e construção que a escolha do Lago para as sócias e bailarinas Thaís, Larissa e Márcia nasceu.
“Sentimos que a escola, alunos e direção estava preparada física e emocionalmente para isso. Depois desses anos de pandemia estamos novamente com um maior número maior de integrantes e queríamos algo grandioso para esse retorno”, explica as meninas. No palco do Teatro Gamaro em São Paulo no sábado, 30 de setembro, bailarinas adultas se revezarão em papéis principais como as de Odette e Odile, onde a ideia é que todas possam ter a oportunidade de dançar. “A ideia é não ter só uma bailarina em foco. Nosso lema sempre foi o de possibilitar que todos dancem e se realizem. E multiplicando os papéis, multiplicamos a prática dessa ideia”, explica Thaís sobre o revezamento de papéis entre as bailarinas. Para mim, um momento de incentivo, comemoração e superação. Posso dizer que nunca imaginei dançar a essa altura da minha vida um ballet de repertório dessa grandeza, mas posso assegurar que se eu posso, você pode também!
“Para todos que estiverem na plateia, a oportunidade de assistirem a um elenco lindo formado por mulheres adultas com agendas super atribuladas, que abrem mão de parte de seu tempo livre já tão escasso, para realizarem seus sonhos, é lindo de ver”, explicam as sócias emocionadas.
O ballet adulto é um processo… Ele te desafia, dá medo e nos causa insegurança, mas também encanta, estimula, fortalece e nos faz enxergar que não importa a nossa idade, formato do corpo ou raça, e sim no acreditar que você pode estar ali se de fato quiser, porque podemos, devemos e merecemos!
A todo elenco o meu respeito e admiração, as sócias do BLA a minha gratidão em enxergar a todas (os) nós com tanto cuidado e afeto! O meu reverence! Bom espetáculo!