São Paulo, 22 de junho de 2020
Muitas de nós já escutamos, e tantas outras repetimos continuamente, que o país vive uma crise sanitária, mas também uma crise política. Apesar de discursos de que estamos com as instituições trabalhando normalmente, sentimos cada vez mais escancarado que não está tudo bem. Há tensão no ar. Há tensão nos corredores. Há tensão na cozinha. Há tensão na sala de jantar. Há tensão nas salas de zoom, nas redes sociais e nas declarações que preenchem os noticiários. Mas e o que a gente faz diante disso tudo? A gente tenta colocar a tensão para fora do melhor modo possível.
Assim, eu decidi iniciar uma série de conversas no meu perfil no Instagram com pessoas que estão pensando cotidianamente sobre a encralacrada histórico-política em que nos metemos. Há pessoas que debatem isso faz muito tempo, tendo em seus projetos de pesquisa, nas suas caminhadas ativistas, nas suas produções artísticas, nos seus modos de ver e noticiar o mundo, algumas das provocações constantes sobre o mundo. E eu estou convidando muitas dessas pessoas para que a gente troque, faça soma e compreenda juntos os problemas, mas também apontemos alternativas. Por isso, nessa segunda-feira, 22 de junho, lancei a série “Emergências brasileiras: diálogos decoloniais”, discutindo como decolonizar o pensamento político brasileiro, com uma figura importante nas discussões sobre o país na atualidade, o escritor, professor e sociólogo Jessé Souza.
O nome da série de diálogos – que ficarão salvos no meu IGTV, lá no @julianaborges_1 – não foi por acaso e surgiu de uma conversa longa que tive com um dos meus melhores amigos e pessoa que sempre me ajuda a refinar ideias e assim foi proposto por ele. Emergências porque uma situação de emergência é grave, perigosa e reflete um momento crítico. Emergência porque também dispositivo que, se acionado em situações difíceis, pode ser central para salvar vidas. Emergência porque, na dinâmica médica, é o local no qual as pessoas precisam de atendimento imediato. Decoloniais para marcar a visão e postura que tenho diante do mundo. Porque a decolonialidade não é o mesmo que a descolonização, que se firma em uma ideia linear, de uma projeção pós-colonial. O decolonial nega essa ideia de superação e se firma na ideia de transgressão e refundação. Ou seja, ser decolonial significa procurar, perseguir constantemente a insurgência para construir alternativas. E acredito que, nesse momento, estamos tanto em emergência quanto precisamos de saídas transgressoras, que desmantelem o que está posto e falido, que refundem outros modelos de convivência e de pactos de dignidade e humanidade. Fico pensando nos modernistas e mais especificamente no poeta Oswald de Andrade que, já na década de 1920, propunha em seu Manifesto Antropofágico que deglutíssemos culturas e expelíssemos o novo. Obviamente que lives de redes sociais são apenas uma ponta, mas creio que podem ser ferramentas importantes para que intensifiquemos discussões e ampliemos seus alcances.
Então, espero você por lá, no meu perfil, todas as segundas e quartas, às 18h, para acompanhar essa jornada.